sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Faxina de Ano Novo

Não sei por que, mas no final do ano, sempre acabo correndo para fazer um monte de coisas que faltam para que o ano se dê por terminado. Até parece que ele vai acabar e eu vou ficar pra trás, no ano passado. Ou então que o ano vai acabar quando eu terminar meus afazeres. No final é só um dia atrás do outro, mas eu vou para o próximo dia sem pendências do anterior.

Assim, resolvo arrumar todas as gavetas e separar as roupas que não uso mais. No fim, não sei o que fazer com mais de uma dúzia de meias-calça e percebo a inutilidade de uma gaveta cheia de lingeries “especiais” – eu sou muito mais bonita do que elas... hehehe

Tenho mais camisolas do que calças e muito mais roupa do que tenho espaço para guardar... Isso é bom, eu acho... Por via das dúvidas, junto sacolas bem grandes para levar embora as roupas desprezadas.

No último dia, enfim, consigo colocar tudo em ordem, faltando apenas umas louças sujas na pia e arrumar espaço onde colocar materiais de estudo para aulas que nem leciono mais.

Faço uma máscara facial e hidrato os cabelos. Escolho as roupas para usar à noite.

O Alexandre chega mais cedo do trabalho, animadíssimo com uma garrafa de Courmayeur, cheio de planos e mil propostas de festas.

No fim, só queremos ficar com as pessoas com quem estivemos todos os outros dias corriqueiros do ano que se passou. Nem foi lentamente, nem foi rápido demais. Demorou mais ou menos um ano. Ainda assim, ficamos ansiosos para que o ano acabe, confiantes de que o próximo será melhor, sem no entanto ter muita certeza de que fizemos algo para que o próximo ano seja de fato melhor.

No fundo, acho que nem sabemos bem o que esperamos.

Esse ano não quero trabalhar mais, nem melhor. Quero que o salário aumente. As folgas também. Não tenho planos de concluir os muitos cursos que deixei pela metade. Parece que quero andar pra trás ou pros lados...

Quero meu laboratório fotográfico pronto e tempo para usá-lo. Dias bonitos e ocasiões para tirar fotos. Mais aulas de dança e menos de psicologia. Mais poesias e menos crônicas. Quero reler mais dos livros que li na infância e não tenho nenhum plano de ler Skinner.

Quero gastar menos, para poder gastar mais nas minhas preciosas férias em maio.

Quero que os bebês nasçam logo pra eu vê-los abrindo os olhinhos, engatinhando, falando.

Esse ano não tenho planos, tenho colheitas. De frutos que virão independentes de mim.

Esse ano não quero realizar, quero usufruir.

Estou cada dia mais descansada e desejando descansar... Eu bem pensei que queria ser menos bobalhona, mas ainda não consigo ver o que teria de bom nisso.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Despertando

Abro os olhos numa sexta-feira, cheia de afazeres não feitos no trabalho. O dia promete ser bem atribulado. Ainda assim, abro os olhos devagar, ciente de que o despertador ainda não tocou. Faço tudo devagar, levanto-me devagar, seduzo devagar, convenço devagar, amo devagar, e vou me arrastando para um banho que já devia ser apressado. Canto em voz alta sob a água, certa de que o som me sai doce e agradável. Saio andando molhada, observando minhas curvas e minha pele ainda levemente dourada.

Hoje encontrei duas gavetas de roupas minhas que eu nem lembrava que existiam, como um tesouro perdido despencando do céu no meu colo. Hoje uso preto, uma blusa que eu nem sabia que tinha. Acrescento um cinto fino, sem necessidade, e um bracelete de couro, com detalhes semelhantes. Faltam vinte minutos para entrar no trabalho e ainda não penteei os cabelos. Enfio os pés numa sapatilha de pano, parceira fiel nas badaladas noites de dança de salão. Ajeito os cabelos, fazendo seu novo cumprimento emoldurar-me o rosto e pego uma pontinha de pomada para garantir que ficarão assim e para estilizar o arrepiado atrás, que uso desde sabe-se-lá-quando. 9 minutos depois estou em frente ao elevador, o gosto doce de um copo de iogurte ainda nos lábios. Desço os vinte andares passando protetor solar no rosto, mirando o meu reflexo no vidro negro das paredes.

Hoje amanheceu um dia quente, com cheiro de domingo. Ouço Dave Matthews e Oasis no caminho. Dirijo leve, como seu eu soubesse o que estou fazendo.

Fazem mais de dois meses que, por conta própria, interrompi o uso dos antidepressivos. Isto mesmo, no plural. Passados os dias de sono insuportável, de insegurança e oscilação, de morosidade e melancolia, de compulsões incontidas, finalmente, movimento-me com a leveza de quem dormiu o suficiente, sem pesadelos, achando-me bonita, achando tudo belo. Acordo nesse calor de dezembro, anunciando o início do verão e a poesia está lá, me encarando com um sorriso misterioso e travesso. Atravesso as avenidas e a arte está lá, me contemplando como se eu fosse uma galeria com uma nova exposição. A irreparável consciência da finitude de volta à disposição para realizar, para viver. A plenitude voltando a existir para mim, sem nunca ter abandonado os meus dias, de fato. As estáticas paisagens cinzentas de repente movimentam-se em frenesi, cheias de cores vivas.

Quando me gosto, ouço rock, visto-me de punk, abandono os saltos altos.

E, como se só agora soubesse, penso em todas as coisas boas, as pessoas que cruzaram nestes dias pisando minhas raízes.


Desperto mais uma vez, torcendo para ficar maníaca nestes dias, para comemorar as festas com minha família, gastar tudo o que não tenho em presentes às pessoas que amo, ansiosa por ver o quanto Aninha cresceu, o Bê liderando a gang, o Arthur aprontando todas, como se nada mais importasse, o Rafa deixando rapidamente a infância para se tornar um rapazinho esperto...

Aí quero fazer festinhas para os muitos bebês que estão para chegar...

Divertir minhas amigas que estão para casar...

Kilda tinha razão: Como eu sou boba! Tudo isso já estava aí!

É como se eu estivesse sob as águas do tororomba, não com a leveza gelada que elas têm, mas imersa naquela escuridão intransponível e, simples como acordar de manhã, romper a superfície com o ar cálido invadindo meus pulmões exauridos.


Fim da Nova Viagem Comigo - 4ª edição






Sento com minha mãe às margens do mar na praia de batuba, sabendo num relance que ela não vai suportar ficar ali, parada. Sorrio para

mim e ela quer saber porque, mas eu não sei colocar em palavras.

Gosto disso, de visitar um lugar e ficar agindo por

aqueles poucos dias

como se eu morasse ali. Como se descer a rua para tomar uma piña colada numa espreguiçadeira fosse parte da minha rotina diária, fizesse parte da lista dos meus afazeres cotidianos tanto quanto despertar, escovar os dentes, ir para o trabalho.


Passamos os dias subindo aquelas ladeiras sem nenhuma vez fazer num dia o mesmo que foi feito em outro. Comemos peixe e frutos do mar até a sua simples menção fazer enjoar o estômago. Conhecemos pessoas novas, lugares – paradisíacos! - novos. Na quinta-feira seguinte nos deleitamos com costelinha de porco, na terça anterior, Coré. Um dia ou outro pasta com

camarões e salmão. Um dia passamos no Tororomba, comemos bolinhos absurdamente gordurosos, visitamos o cemitério do local, enchendo as cabeças com histórias para serem contadas, bebemos água das fontes ferruginosas do local. Uns dias sequer almoçamos propriamente, andando em Ilhéus beliscando kibes, sorvetes e pudim de leite.

Triste tirar férias sem estar propriamente cansada, mas sempre boa a sensação de conhecer o novo, reconhecer o velho, aventurar-me a rir até a barriga doer, arriscar-me conhecer pessoas para me despedir depois com um abraço temeroso.


Volto para Brasília com aquele sensação que dá quando seu sobrinho te chama pra brincar, mas você está ocupado. Ansiosa para terminar meus afazeres e descobrir que novas aventuras a imaginação dele pretende te levar, o mais rápido possível. Mas retorno de novo, só pra ter logo a sensação de dever cumprido que me trará o início do meu próximo descanso.


04-11-2010 – Saindo de Casa, Voltando pra Casa



Volto para minha casa, no lugar onde me escondo. Parece até ligeiramente irreal, parece uma lembrança, às vezes espero acordar, como se sonhasse, depois de ter sonhado tantas vezes com este lugar, tentando trazer minha mãe comigo. Nos sonhos, os lugares eram diferentes do que realmente são e as situações eram uma mais sem sentido que a outra e nunca conseguíamos chegar, para eu mostrar à minha mãe, irmã, amor, irmão, cunhada, pai, os deslumbramentos que este lugar me provoca. Agora chego aqui e tudo é simples e natural, como se eu sequer houvesse antes partido. Como se o tempo que passei no meu apartamento no 20º andar, as idas e vindas à casa de minha mãe, os longos trajetos até o trabalho, umas duas ou três cidades ao sul de bsb, tudo, fosse não mais que um breve pesadelo do qual acordo esvanecendo em fiapos as lembranças e, ao saltar da cama nem lembro que sonhei.

Sento no meu ansiado silêncio, para assimilar tudo isso, pra poetizar piegas sobre minha felicidade, pra me sentir plena e bem sucedida, para criar e ter mais sonhos a tornar concretos. Mais um suspiro e desprezo a desnecessidade de registrar tudo aqui, só viver, só viver e, quem sabe emendar nestes pensamentos mais um breve cochilo.

uma das únicas fotos minhas sem o chapéu na cabeça...

Fractais - O Preço do Apreço



Um dia decidi não desmarcar mais compromissos. E, ao mesmo tempo, decidi comprometer-me comigo e comigo apenas.

Aí, a paixão pela música e pelas descobertas venceram o constrangimento de sair sozinha. Parei de comprar quilos de queijo e litros de vinho para as festas na minha casa. E passei a ir aos pubs, mesmo quando todo mundo furava.

Meus amigos se tornaram pessoas mais leves e variadas – e a levar petiscos e bebidas às festas – e eu tomei gosto tal por sair sozinha que parei de convidar as pessoas. Assim, comecei a conhecer pessoas novas, com preferências semelhantes às minhas, que vieram a preencher as festas na minha casa.

Perdi muito da minha timidez natural, passei a conversar com interessantes estranhos. Comecei a gostar tanto disso, que passei a viajar sozinha nas férias e ter novas pessoas de quem sentir saudade, nos intervalos dos meus atendimentos.

Descobri que gostava da minha voz e da minha companhia!

Passei a estar de passagem sem carregar comigo nenhuma mala ou mobília.

Eu nunca mais fui só. Até os lugares passaram a ser parte de mim, como amigos queridos.

Hoje eu conheço um novo pub, com novos nomes pras mesmas bebidas, com pessoas com roupas bonitas, cuidadosamente escolhidas, uma nova mesinha isolada, pra me sentar só e ouvir bandas novas, tocando velhas músicas...

domingo, 3 de outubro de 2010

Outros Outubros

Para não decepcionar ninguém e em reconhecimento dos que esperaram.

Depois de votar, sentei-me ainda pensando no futuro do país. A cabeça latejando de dor, a ponto de dar-me náuseas.Angustiada, desisti de ficar apenas deitada na cama branca da minha mãe e decidi subir e cuspir com as letras minha enxaqueca.

Eu, na verdade, não ia fazer nenhuma edição de outubro, pois sequer notei que outubro havia chegado. Eu estava lá ocupada com as trocas de servidores no trabalho, a viagem no meio disso tudo, a falta de grana, a remarcação das férias, os bebês da família, a falta de grana, o serviço novo do marido, o tempo ocioso do marido, a falta de grana...

Um dia, percebo que, à toa, estou com um nó não desfeito na garganta e em diversos músculos do corpo. Na sexta me arrumo e dirijo uns 50Km para despedir-me de um amigo querido por uns cinco minutos e, sem perceber, estou no carro de volta e as lágrimas vêm fortes aos olhos. Tão frustrada com tudo, apesar de tudo estar tão bem! Aí chego em casa e vejo o email da Clau me desejando um feliz outubro, me lembrando que é outubro. Muitas outras cobranças para os textos vêm. Eu nem ia escrever nada, não tendo percebido que o mês acabou. Pra mim isso só representa a entrada do meu salário na conta. Eu não queria mais estabelecer ligação entre esses eventos, mas não tem como evitar.

Mas não queria mais escrever sobre meus outubros, meus dias cinzentos do final de setembro, as chuvas em novembro. Todo ano meus textos são iguais, todo ano sofro em outubro. E me provoco ainda mais dor me afastando de todo mundo com a minha melancolia travestida em mau humor.

Os olhos enxarcados, mas sem tempo para soluçar. Sinto saudade dos dias que me encolhia gemendo, desejando ardentemente não amar ninguém, só a mim, só a mim. Nada disso resolve, só traz mais dor.

Eu não escrevo mais poemas, meus sentimentos não têm mais cor, eu apenas admito friamente que amo a despeito das ações que faço. Mesmo assim, as palavras atropelam minha língua e meus dedos. Mesmo assim, ainda tenho gente ansiosa pela postagem nesse blog bobo, me mandando emails, tentando me fazer sentir melhor apenas disso tudo.

Neste outubro, como nos outros, quero apenas ficar sozinha. Desamar! Desmagoar! Quero esconder-me para que ninguém me toque e omitir-me de tocar também. Mas cansei dessa gangorra, dessa montanha russa emocional. Cansei de ficar dengosa, te querendo perto e agressiva, alimentando raiva tentando te odiar, por ficar tão distante. Cansei!

Mas agora pareço tão distante da paz que nem mais sei se isso existe ou é possível. Deixo-me, declino-me, abandono-me, longamente me espero pra só retornar quando eu puder esperar por março.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fim da Nova Viagem Comigo - 3ª edição

Levantei-me, enfim, para o banho decidindo severamente comprar-me uma “havaiana”. Desesperei-me com os 4 registros do chuveiro. Liguei o 1º, a água saiu fria. Fechei. Liguei o 2º. A água saiu gelada. Tornei ao 1º e esperei mais tempo dessa vez, até a água estar quente o bastante para tomar coragem de molhar-me inteira. Depois de um tempo a água estava agradavelmente quente, depois um pouco mais, quando os braços estavam dormentes e formigando consegui ajustar a temperatura e o banheiro já era todo uma sauna a vapor e eu, toda vermelha, achei que era o bastante e dei o banho por encerrado. Aprontei-me rápido e achei-me linda em minhas roupas de frio.

Comi pães, sanduíches frios, queijos, ovos mexidos, saladas de frutas com generosas colheradas de um creme branco parecido com chantili e por último, uma grossa fatia de pudim de leite com caramelo.

Tudo em Campos tem cara de Natal, até as luzinhas piscando. Jardineiras flori

das, cafonas, sob as janelas, cheiro de chocolate quente e canela. Venho elegante em meu casaco vermelho-cereja, ventilar minhas idéias na esperança de renovar aquilo que faço todo dia.


Reconheci velhos conhecidos jovens como eu, ouvi nomes de pessoas velhas trazendo temas novos e me envelheci, sem paciência com os aluninhos que perturbavam as palestras, provavelmente sem conseguir entendê-las. Depois envelheci ainda

mais, sem dar conta de passar a noite acordada, tomando vinho com algumas das pessoas mais ilustres presentes ali, “celebridades” de nosso pequeno mundinho acadêmico.

Pude fazer tudo o que mais gosto, embora exausta com tantas "aulas" e pululando de novas idéias pro trabalho, ainda pude experimentar truta ao molho de alcaparras, comer até não aguentar mais, acordar sem despertador, tomar banho bem quente demorado, apaixonar-me pelos lugares, pelas coisas, pelas pessoas, por mim. Pude transgredir e me sentir ótima depois, pude divulgar-me e ao meu trabalho, fazer planos e projetos com pessoas mais importantes que eu. Conhecer pessoas e a mim, por consequencia. Assumir-me tímida, em vez de fingir que não sou (porque tenho vergonha de ser tímida) e permitir-me envolver e expressar o amor que desenvolvi por essas pessoas. Só por isso já valia toda a viagem e o grande rombo orçamentário que adquiri por causa dela.

Volto para Brasília com raiva do calor seco e da fumaça, desejando passar o resto da vida em divagação intelectual, taças de vinho bom, piadas inteligentes, numa cidade deliciosa como Campos. Sinto-me ansiosa antes de embarcar no avião, e para despedir-me com muitos abraços sinceros e apertados nos amigos que tornaram a viagem ainda mais especial.

Mas volto e Brasília está quente, seca e esfumaçada. O ar que vem de lá provoca turbulências no avião e em mim. Desço já com outros pensamentos, ansiosa pelo seu amor, sua voz, seu toque, seu sexo. Tomo mais uma taça de vinho antes de dormir e acordo no outro dia com as fortes dores de cabeça, decorrentes do clima, da ressaca e, principalmente, da abstinência de tudo aquilo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Nova viagem comigo - 3ª edição


Saio para uma curta aventura solitária, como prenúncio da próxima.

Subo pelos ares e, rápido, a colcha de retalhos do entorno de brasília se transforma num

cobertor felpudo, amarfanhado sobre uma cama gigantesca, em minas. Por trás da minúscula janela do avião, vejo um dos pores-do-sol mais belos da minha vida, sob aquele clima que só BH me traz.

Vontade de descer e sentir-me de novo naquela cidade, como um novo início da vida, só que voltando ao passado.

Rápido demais subimos de novo, para o infinito multicolorido, parecendo tela de zeração de jogos antigos, de atari. O sol escondido, deixando acima de si tons acobreados de laranja, vermelho, verde e azul. O céu, enfim, começa a talhar-se de nuvens espessas, inexistentes no planalto central nesse período. Quando a noite termina de cair, logo vemos o mar de pontos dourados, enlouquecidos, que é são paulo. A temperatura ainda amena, confusão fazendo parte da rotina para partirmos para o destino final. Arrasto as duas malas pelo aeroporto e afora.

Quase meia noite chegamos em Campos do Jordão, eu na minha simpática solidão silenciosa. Me engano que o frio profundo que sinto é devido ao horário. A cidade toda parece um glaçado de natal, ou um cenário de brinquedo, como o que eu tinha, da guliverlândia.

Acomodo minhas roupas correndo do tapete ao armário e de volta. O piso gelado. O aquecedor parece não funcionar, embora a seu lado eu sinta o calor na máxima potência. Tiro fotos de mim, achando-me bonita.

Uma enorme cama fofa repleta de cobertas sorri pra mim, tímida, mas convidativa e eu não hesito em desfraldá-la, fazendo bagunça nas muitas colchas, presas nas laterais. Acordo no outro dia com mais frio do que estava na madrugada. Cubro a cabeça pra me esquentar, sabendo que devia era ter ali o seu corpo que o faria maravilhosamente.

Não consigo voltar a dormir, o despertador toca em seguida, trazendo também uma mensagem da minha mãe, preocupada.

Salto da cama, escolhendo mentalmente a roupa a vestir e me questionando se os casacões comprados exclusivamente para esta ocasião serão suficientes e me preparo pra enfrentar minha timidez e a multidão que que espera de fora da porta, na minha pequena jornada intelectual, descanso para os dias de mera execução de tarefas profissionais.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O Farol

Hoje eu decidi chorar, mesmo sabendo que não tenho lágrimas. Então o fiz do meu jeito, ficando vermelhinha e agarrando-me ao meu violão e às músicas tristes que me vêm, existam elas ou não.

Contando os segundos para o fim da minha paz solitária. E me senti mais estúpida que de costume, com as decisões erradas que tomei, os caminhos errados, as palavras erradas, as danças erradas com as músicas erradas... Eu vivo uma vida com poucos arrependimentos, mas basta um...

O ruim de ser sozinha é não ter colo. E quando chega, todas as noites, o fim da minha solidão, me sinto ainda mais vazia e estranha. Nenhuma companhia aplaca minha triste clausura voluntária. Só eu cuido de mim. Só eu me importo comigo. Só eu me dou o trabalho de me deixar feliz. Só.

Eu sei que de alguma forma a felicidade está dobrando a esquina, mas por alguma razão eu continuo presa no farol.

Mas não sou de ficar esperando que alguém resolva por mim meus problemas, continuo inertemente buscando pequenas soluções para os meus pequenos probleminhas cotidianos, minhas coisinhas de mulherzinha. Tecla por tecla no meu piano.

Continuo pequena e, na minha pequenez, me dou o direito de magoar-me com meus esforços solitários. Tudo pequeno demais pra ser importante.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Papel de Boba

Meio de Julho, com cara de agosto.

Calor seco o dia inteiro, noite fria demais pra dormir sem meias.

Mais muitas noites pra saber ser sozinha pela frente. E sozinha mais uma vez.

Os amigos cada dia mais virtuais, a necessidade de auto-afirmação cada dia mais fácil de ser sanada. Mesmo sendo tão pouco sã. Mesmo sendo as loucuras salutares.

Pleno 2010 e ainda faço papel de boba.

Só decresço. Cada vez mais ridícula e infantil. O tempo, os dias, a experiência só me deixam mais idiota. Preocupo-me sempre e cada dia mais com o tônus da minha pele, com o frizz nos cabelos, com a falta de tempo pra ficar impecavelmente atraente.

Findam-se os dias de comer tudo o que me apetece, em todos os sentidos.

Nada mais de promessas vãs e frases costumeiras. Nada de beber vinho no parque, nem caro nem barato. Nada de violão preso ao braço, no ônibus lotado. Difícil até pegar um cinema sem um preparo antecedente.

Eu, do meio pro fim e agindo como se fosse a linha de chegada, pra começar tudo de novo. Preparo a tranqüilidade do fim da vida, pensando em finalmente dar início à minha.

Não sonho mais, tudo tão real.

E, por mais que eu relute nos belos clichês de realização, preciso parar de fingir que não sei que, talvez pela primeira vez, sinto que vou ser feliz.

Boba!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Fim da Viagem Comigo - 2ª Edição


Apenas 22 dias depois de ter deixado minha casa, retornei. Nestes dias fiz amigos que tiveram ainda mais valor do que pela própria amizade, pela esperança que reacenderam em mim, na própria Existência. Nada como uma oportunidade para agir livremente, sem que ninguém tivesse expectativas para eu buscar atingir, ou idéias pré-concebidas sobre minha personalidade. Personalissimamente livre pra ser diferente de quem sou todos os dias. E pude experimentar ser confiante e segura, ao mesmo tempo que frágil e vulnerável. Pude experimentar ser desapegada, ao mesmo tempo que profundamente afetuosa. Aberta e franca, embora tímida e reservada. E, melhor que tudo, pude dormir por dias sem ficar pensando no que pensaram de mim, no que disseram depois que fui embora, no que eu deveria ter dito, no que eu deveria ter feito, no que eu deveria fazer para desfazer algo feito, no que deveria tentar para fazer as pessoas gostarem de mim.
Depois de aprender intensamente de quão humana eu poderia ser, aprender com a humanidade de meus inesquecíveis amigos, vou para 10 dias em total solidão, meio que assimilando a experiência dos primeiros 12 dias.
Quase consegui enjoar da minha própria voz, conversando comigo todo esse tempo. Em dois ou três dias deitada no meu pequeno quarto, com a chuva arrasando toda a Bahia lá fora, nos dias de sol, cuidando de mim. Descansando de todo mundo. Conhecendo gente, conhecendo a mim. Mergulhei em Mansfield Park e no mar gelado, raso, de Olivença. Algumas paisagens que me faziam me sentir escritora só por estar ali. As idéias fluindo, um mundo a parte da minha realidade. Os sonhos sendo desempoeirados na estante. Cada cor, cada som, cada projeto, cada plano, cada surpresa em cada esquina, cada nova voz, cada idéia absurda - foram me tornando cada vez mais eu.
Volto com vontade de voltar, dessa vez. Mas sabendo que poderia ficar para sempre sem dor. Volto sem arrependimentos, sem oportunidades perdidas e já com aquela saudade boa de quem fez tudo o que devia e não deixou nada passar. Seguindo à risca o compromisso que selei há um ano, com minha nova perfuração simbólica.
Volto para casa, desejando nunca mais esquecer amar e ansiosa para que me vejam como hoje me vejo - completa, perfeitamente humana, em paz - e com um delicioso bronzeado.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Viagem Comigo 2ª edição

Olhei para cima, o céu coalhado de nuvens tornando-se todo branco leitoso, em ondas crespas de vapor.

Hoje parto de avião para mais dias do que gostaria, longe de você.
Ansiosa por mais esta aventura e por um tamanho descanso que parece sonho e sentindo-me linda e poderosa, no assento ao lado da janela sobre a asa direita, estendida como se fosse uma ponte para o infinito, a fita do chapéu ansiosa por esvoaçar.
No chão, até onde a vista alcança, há apenas o verde cinzento, pontilhado de árvores baixas e gordinhas do cerrado no planalto central.


Assim que alçamos vôo, o céu branco que aparentava todo uma única onda na rebetação mostrou-se formado pelos mais diversos tipos de nuvens. Das pequenas e esparças, parecendo algodão-doce sendo formado na máquina, às grandes e densas, como montanhas de quartzo. Algumas escuras e planas, fininhas lá no alto. - Um paraíso a uma fotógrafa de nuvens.
Por vezes atravessamos uma dessas ilhas de vapor, tornando toda a visão da janelinha um grande clarão branco. Até que subimos o bastante para vê-las lá embaixo como maquetes de castelos loucos, como antes vi perfeita minha cidade como se fosse de papelão e espuma pintada. E, acima de nós, nada além do céu ciano intenso, abrindo-se a um universo desconhecido.


Algumas nuvens se estendiam sob a aeronave, planas como um edredom de malha sobre a cama num facho de sol, convidativa depois de um dia na piscina. Muitas centenas de metros abaixo, um largo rio lamacento serpenteava uma paisagem pontilhada de plantações em círculos e quadrados, de diversas cores. E os trechos de terra que apareciam no recorte entre as propriedades foram abandonando o tom vermelho ácido e se tornando branco brilhante, marrom pálido até chegar no vermelho-escuro saudável das terras da Bahia.


Nesse ponto, as nuvens fofas que delimitavam a orla celeste faziam lembrar prédios em uma metrópole grega. Em outros pontos, pequenas nuvens intercalavam-se com a projeção de sua sombra, produzindo um espetacular tabuleiro de xadrez gigante.
Quando veio o serviço de bordo, já tinha começado a assimilar de novo aspequenas delícias de estar sozinha. Tomei refrigerante e não havia quem me censurasse, alertando de que seu destino final seria as minhas coxas; nem pra se espantar de que consigo comer presunto e requeijão cremoso; nem pra me impedir de comer amendoim japonês (embora o tamanho da porção não fosse suficiente para ativar uma reação alérgica).

Quando a descida começou a ser sentida, lembrei-me da outra vez que fiz este trajeto: um dia e meio trancados no carro, com poucas paradas. Dormimos no "Universo", em Vitória da Conquista, jantamos bife à cavala, meu primeiro, e nunca havia comido nada tão delicioso. Depois acordamos cedo, pra chegar na pousada depois do almoço.
Se soubesse o que o tempo me reservava, tinha feito mais perguntas e passado mais tempo calada, pra ouvir as longas loucas histórias do meu avô, em vez de ficar imaginando o que ele pensaria dessas paisagens que descrevo sem pressa. Passa o tempo.


Hoje, sequer tive tempo o bastante para me enfadar da paisagem monótona das nuvens.



Novamente, as fotos só quando eu descarregar a máquina. Vai ser difícil escolher só uma...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Dia de Cama - Aos que me fazem bem.


Então, para retomar o controle, meu corpo decide que é hora de descansar e sou presenteada com 3 dias de atestado médico e uma conta gorda na farmácia.

De novo, sou invadida por um senso de sem limites e um mundo de possibilidades se abre para mim! Eu posso sentar-me e compor, num tempo em que estaria resolvendo pepinos no trabalho. Sou convidada a escrever um artigo delicioso que certamente me salvará da impressão de fracasso acadêmico. Sinto-me tentada a passar o dia no meu pijama cor-de-rosa e assar um bolo de chocolate com côco, enquanto bato no liquidificador um pudim de maria mole.

Colocando as coisas nos eixos, enfim, é o que meu corpo me diz, quando me obriga a descansar. Descanso de planejar festas, de ir a shows, de me importar com a aparência (embora nem por isso pare de cuidar dela), de salvar vidas, descanso de extirpar, sim, porque uma das minhas medidas de ano novo foi a de me afastar de tudo que me faz mal e me aproximar do que me faz bem.

Torno companheiros de farra, aqueles que eu considerava amigos mas bastava um dia de raiva pra usar contra mim informações que a confiança me fez revelar.

Amizade não requer sacrifício. Amor não requer sacrifício. Cada esforço é um prazer e abrir mão de outras coisas, é dar prioridade. Não é um sofrimento para ser lembrado quando as pessoas te decepcionarem.

Eu não preciso de banda, nem de platéia pra achar meu sucesso na música. Eu não preciso de galerias pra expor minha arte. Eu não preciso de aplausos pra desenvolver contribuições acadêmicas. Eu não preciso vencer nos jogos de xadrez (nem no monopoly deal, embora eu não consiga evitar). Eu não preciso de motel pra foder, nem de cama pra fazer amor. Eu sequer preciso de leitores para as palavras que registro em favor de minha péssima memória.

Eu preciso de meus ouvidos.

Eu preciso das minhas mãos.

Eu preciso pensar e estudar.

Eu preciso jogar.

Eu preciso amar.

Eu preciso de palavras que valham a pena ser lembradas.

Eu preciso de um bolo quentinho.

E eu preciso das pessoas que fazem de cada um desses momentos, um bem.

Um agradecimento à natureza sábia, que me põe pra descansar e cuidar de mim, do meu equilíbrio. E às pessoas queridas de perto e de longe e aos que se vão, pelo bem que me fazem.


P.S: Antes tarde do que mais tarde, eis a foto do meu bolo de chocolate com côco.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Failure


A poesia tem tomado conta dos meus dias de forma tão intensa, que começo a sentir meus fracassos como se fosse não mais que uma oportunidade de ... arte!

Não sei, mas parece que devia me incomodar com o fracasso. Sinto o incômodo de dever me incomodar. Não sei se me sinto aliviada por me livar de uma obrigação ou se simplesmente aprendi a enfrentar minhas falhas como experiências, vivências...

Parece que tenho prazer em perceber minha humanidade, quando em algum aspecto não sou bem sucedida. Ou uma derrota talvez não seja capaz de minar meu reconhecimento dos sucessos.

Eu “jogo fora”, 2, 3, 5 anos da minha vida com uma atividade que não me levou pra onde queria ir e só penso que tinha o direito de errar. Mas passo os dias admirando os pequenos calos na ponta dos dedos, sucesso em retomar parte da música que acreditei estar perdida de mim. Vejo no espelho e no tato, o sucesso do cuidado diário com minha pele. O ânimo das manhãs para ir ao trabalho, porque é tudo que sempre sonhei. O abrir mão das pequenas regalias que o dinheiro pode comprar, como sucesso para a expansão da minha clínica...

Meu sucesso está nas pequenas coisas, mesmo que meus fracassos estejam nas grandes.

Sou pequena o bastante para nunca esquecer dos detalhes cotidianos.

E pequena demais pra enxergar a magnitude dos desastres que pontilham minha humanidade.

Ainda assim, não sei se isso é verdade, ou se é apenas a pintura que fiz de mim, pra não sofrer com a perspectiva de falhar onde todos tiveram êxito.

Arte.