segunda-feira, 20 de maio de 2013

Oito anos



Um dia eu te vi sob as árvores
Daquelas que fazem bastante sujeira
Com folhinhas miúdas caindo muito pra todo lado
Eu tinha enfrentado um outubro terrível
E passava como num alvorecer gelado para novembro
Eu desejava descobrir
Novas coisas
Que me fizessem sorrir.
Naquele dia eu tinha dançado salsa pela primeira vez.
E entrado numa calça que nunca antes tinha ficado tão bem.
Eu adorei seus olhos, mas não tive olhares deles para mim.
Eu decidi, dentre muitas pequenas decisões que tomava naqueles dias,
E que vieram a mudar minha vida para sempre,
Eu decidi que queria te fazer me olhar.
Assim como o almoço daquele dia
E como aquelas folhinhas caídas
Não foi um momento para parar meu dia.
E nem pensei muito nisso nos dias que se seguiram.
E ter finalmente um olhar seu, dos olhos escuros que eu tanto gostei.
Então outras coisas entraram em foco.
Fui te amando devagar.
Cada dia um pouquinho mais.
Sua pele caiu nas pontas dos meus dedos.
E o som da sua risada passou a fazer parte do ar que invadia meus pulmões.
Meus olhos pousaram nas suas mãos e deslizou nos músculos da sua coxa e acima
Sua língua pousou na minha nuca, e deslizou até a minha.
E se encontraram tranqüilas como nos encontramos a nós mesmos,
Naquele dia de fim de primavera.
No primeiro ano, fui aprendendo a me livrar dos meus medos e ser corajosa e forte como você
No segundo, fui aprendendo a ficar feliz e substituir minha diversão melancólica por dias leves e risadas altas;
No terceiro, aprendemos a trocar. Trocamos dias de folga por trabalho, mordomias por dificuldades, trocamos alianças, trocamos os dias de farra pelo comodismo íntimo de nossa casa;
No quarto, invertemos nossos papéis e eu comecei a cuidar de nós e você só de mim, embora ainda meio sem jeito;
No quinto, trocamos o sono por noites em claro e nossa constante companhia costumaz pela agonia de não nos vermos mais, a despeito do desejo e contrário ás possibilidades
No sexto, aprendi a me largar sobre você e você a se esquivar disso. Descobrimos novos lugares e novos hobbies.
No sétimo, aprendemos a nos odiar e cobrar um do outro, a tentar viver sozinhos e por fim, resolvemos experimentar se conseguiríamos
E neste oitavo, aprendemos a nos manter juntos, ainda que separados. Aprendi a ter sua amizade, descomprometidos, mas sem nunca falhar comigo.
Assim você passou a fazer parte dos meus dias,
natural como o lusco-fusco ao fim de cada um deles.
Dias de Rage against the machine, dias de Jack Johnson
Dia de dizer que estávamos nos amando, ainda que não soubéssemos até quando
Dias de comer pizza, de restaurantes caros, de dividir um miojo, de frutos do mar às margens do lago de Garda
Acho que naquele dia, sob as folhas miúdas, eu não sabia como seriam os oito anos que viriam a seguir
Mas também nem pensava nisso.
Não escolhemos nos amar, nem passar todo esse tempo juntos,
Mas acertamos na escolha.
Cometemos erros, nos magoamos um ao outro.
Ninguém nos contou que seria assim
Ninguém nos ensinou a viver dessa maneira
Ninguém nos avisou que logo não teríamos outra opção
Senão essa
De sermos tão imensamente felizes juntos, quanto miseráveis separados.
Demos valor a coisas diferentes
e desprezamos aquilo que ao outro mais importava.
Quando distantes, não imaginávamos que um dia não teríamos o outro perto.
Quando próximos, queríamos mostrar ao outro como era que queríamos viver.
Enfim, mais dor e mais dor
Precisei cada dia mais de você, até engolir o orgulho
E admitir
Que te amo com todos os seus defeitos
Mas não consigo viver com os meus.
Ter você é a desculpa ideal pra tudo o que não gosto em mim.
O perdão definitivo pra o que tenho de imperdoável.
Oito anos se passaram
Vez por outra, ainda brinco de atrair seu olhar
E, embora ainda distante, nunca te senti tão parte de mim quanto hoje.
Com tudo o que vivemos
Em tão pouco e tanto tempo
As linguagens entendidas sem explicação
Que venham mais oito anos
De tudo
De mais erros que acertos
Desde que juntos
De sempre
Pra sempre
De muito
Mais
Além da conta
De infinito
E além
Pra te amar de novo, todos os dias
De sempre
E pra sempre
De infinito
E além.