quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Fim da Viagem Comigo - 2ª Edição


Apenas 22 dias depois de ter deixado minha casa, retornei. Nestes dias fiz amigos que tiveram ainda mais valor do que pela própria amizade, pela esperança que reacenderam em mim, na própria Existência. Nada como uma oportunidade para agir livremente, sem que ninguém tivesse expectativas para eu buscar atingir, ou idéias pré-concebidas sobre minha personalidade. Personalissimamente livre pra ser diferente de quem sou todos os dias. E pude experimentar ser confiante e segura, ao mesmo tempo que frágil e vulnerável. Pude experimentar ser desapegada, ao mesmo tempo que profundamente afetuosa. Aberta e franca, embora tímida e reservada. E, melhor que tudo, pude dormir por dias sem ficar pensando no que pensaram de mim, no que disseram depois que fui embora, no que eu deveria ter dito, no que eu deveria ter feito, no que eu deveria fazer para desfazer algo feito, no que deveria tentar para fazer as pessoas gostarem de mim.
Depois de aprender intensamente de quão humana eu poderia ser, aprender com a humanidade de meus inesquecíveis amigos, vou para 10 dias em total solidão, meio que assimilando a experiência dos primeiros 12 dias.
Quase consegui enjoar da minha própria voz, conversando comigo todo esse tempo. Em dois ou três dias deitada no meu pequeno quarto, com a chuva arrasando toda a Bahia lá fora, nos dias de sol, cuidando de mim. Descansando de todo mundo. Conhecendo gente, conhecendo a mim. Mergulhei em Mansfield Park e no mar gelado, raso, de Olivença. Algumas paisagens que me faziam me sentir escritora só por estar ali. As idéias fluindo, um mundo a parte da minha realidade. Os sonhos sendo desempoeirados na estante. Cada cor, cada som, cada projeto, cada plano, cada surpresa em cada esquina, cada nova voz, cada idéia absurda - foram me tornando cada vez mais eu.
Volto com vontade de voltar, dessa vez. Mas sabendo que poderia ficar para sempre sem dor. Volto sem arrependimentos, sem oportunidades perdidas e já com aquela saudade boa de quem fez tudo o que devia e não deixou nada passar. Seguindo à risca o compromisso que selei há um ano, com minha nova perfuração simbólica.
Volto para casa, desejando nunca mais esquecer amar e ansiosa para que me vejam como hoje me vejo - completa, perfeitamente humana, em paz - e com um delicioso bronzeado.