domingo, 13 de dezembro de 2009

Almost tearless (500) Days of Summer

Então, não satisfeita com minha temporada solitária, vou ao cinema sozinha e – porque não? – decido assistir um daqueles filmes “de mulherzinha”. Um daqueles que eu NUNCA teria companhia para assistir, anyway.

De início, nada que já não fosse esperado de um filme com a Zooey Deschanel, no seu papel costumeiro de antagonismos. As roupas que parecem ter saído de um desfile dos meus sonhos e a beleza quase imoral em seu olhar azul que parece dizer que não se importa com nada, nem mesmo com o uso de corretivo cosmético. Não, ela está acima disso, bonita demais pra se entupir de maquiagem.

O filme revela uma belíssima história sobre o amor. Cheio de dor, de paixão, de como esses sentimentos parecem ser o melhor caminho para nosso desenvolvimento pessoal. Tudo isso embalado por uma trilha sonora maravilhosa. A disposição do roteiro não só ficou extremamente original como parece ser o melhor caminho para produzir na pessoa que o assiste a emoção gerada por ele. Fiquei emocionada! Perdi nele algumas das muitas lágrimas que tenho perdidas em mim. Lágrimas que luto pra conter num momento e depois não as encontro, em outro. Elas vieram, bemvindas e agradáveis e no momento certo.

Às vezes o amor dói tanto, que finjo que ele não existe. Nos meus momentos de loucura, eu o desejo. Nos momentos de desespero, eu imagino que posso voltar no tempo e me expôr a outras contingências, só pra não estar no lugar que estou. Mas nos meus momentos de equilíbrio, quando sou plena e feliz, eu amo. E apesar de tudo o que digo só para ser antagônica, é nos momentos que entro em contato sincero com meus sentimentos e os expresso sem máscaras é que sou honesta. É que sou quem quero ser. É que não me importo com o que os outros vão pensar de mim (maldita herança ontogenética).

E é nesses horas que temo o mal que posso estar fazendo a alguém, mas o temo honestamente e cheia de amor.

Pois, amo! Às vezes sofro, às vezes faço alguém sofrer, às vezes fico dengosa, às vezes me sinto leve e feliz, às vezes pareço não me importar com nada, às vezes não uso maquiagem. Amo.

Assistam o filme.

sábado, 21 de novembro de 2009

O Fim da Viagem Comigo


Impressionante como o tempo passa devagar quando não temos pressa. Mas, embora cada dia parecesse semanas na minha viagem solitária, rápido demais ela chegou ao fim e voltei a ter pressa e horários e discutir opiniões antes de decidir ir a qualquer lugar. Também não pude mais fazer o que quisesse e não fazer o que não quisesse. A vida real chamava insistente aos ouvidos, embora eu fingisse dar-lhe as boas vindas com sauda

de como se estivesse ansiosa pelo seu retorno, mas amargurava-me intimamente como se devesse me despedir de um amigo companheiro. Na verdade, como se me despedisse de mim e do tempo ótimo que passei comigo.

Olhei triste para meu quarto de hotel, meu abrigo aconchegante para o período de reclusão, tentando reter cada detalhe dele na memória, mas sabe

ndo já que as lembranças se esvairiam de mim como água entre os dedos, como sempre. Lenta e melancolicamente fechei a porta com a mesma s

ensação de quando preciso desligar o computador, deixando uma conversa agradável no gtalk pelas metades, ou quando preciso desligar o telefone, numa de minhas ligações interurbanas, ou quando não poucas vezes assisti fecharem com barro uma sepultura, fechei a porta, desejando fechar-me nela ainda, mas a mão veio automátic

a ao trinco, girando a chave.

Volto pra casa, pra vida real, como se minha realidade tivesse morrido. E, como todo processo de luto, demoro não mais que uma semana pra que minha vida voltasse ao normal, mas é claro, sem nunca voltar a ser a mesma.


Na foto, um trecho do caminho de volta.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Viagem Comigo IV

Depois do dia em que cheguei ao "meu" exílio e à "minha" pousadinha, acabei gastando muito pouco tempo descrevendo a viagem, estava mais curtindo mesmo. Assim, coloco diversas fotos do que aconteceu durante a semana. Claro que elas não são capazes de reproduzir o cheiro molhado da noite na cidade deserta, a voz das pessoas que conheci, minha surpresa encontrando cogumelos interessantes na beira do caminho para um clube, a complexidade de conversas despretensiosas, minha frustração em não ter nem a habilidade nem o equipamento necessários para fotografar as cenas lindas que eu via todos os dias no meu caminho, a tranquilidade de um homem caminhando no centro da cidade de roupão atoalhado amarelo às exatas meia-noite e 44 minutos de domingo, as cores exatas de flores e de nuvens brilhando com o sol do fim de tarde, e nunca serão capazes de transmitir a profundidade da sensação de liberdade que eu experimentava. Estão algumas dessas imagens aí, espero que apreciem.









Nesta, a cidade deserta por volta das 21hs. Isso aí é o centro, nem carro parado tem.

Nesta, a "minha praça". Onde conheci gente, vi coisas improváveis de acontecer em outros lugares, e vi palavras se perderem sobre meus olhos.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viagem Comigo III


Já eram mais de 20hs quando terminei de acomodar minhas coisas na suíte. Parei em frente do mesmo espelho onde me vi sorrindo quando cheguei, satisfeita comigo, sem lembrar se já tinha feito isso antes. E vi completamente minha imagem nua, ainda sorridente, como não via há anos. Era um espelho lindo com uma moldura em pátina branca e parecia bem antigo também, embora não tivesse ainda as manchas que costumam surgir nos espelhos antigos. Me olhei mais um pouco e, da mesma forma que um mundo d

e beleza se descortinou pra mim na paisagem comum do cerrado verde e vermelho da época de chuva, vi-me e quase não me reconheci com meu penteado modernamente retrô e com meus quadris enormes. De fato, não foram apenas os números na balança. Não havia reparado ainda que tinha engordado tanto assim. Meu rosto estava agora tão redondo que meus olhos que sempre foram grandes quase sumiam nele. O formato de minhas nádegas mudara também, embora eu sempre tivesse me orgulhado delas, na verdade eu quase não as via, apenas presumia sua beleza. No todo, apesar da estranheza, ainda não era desagradável de olhar. Os seios agora redondos pelos quilos a mais continuavam muito pequenos e aparentando ainda menores no continuum do meu abdome redondo. Aper

tei-os com desgosto e mexi o meu piercing, apenas por hábito. Então reparei que há tempos não cuidava dele. Empurrei de um lado para o outro e percebi, com certa surpresa, que estava finalmente cicatrizado. Mais uma vez orgulhosa de mim, lembrei-me da promessa de que faria outro assim que esse cicatrizasse (e é bem provável que eu o faça aqui mesmo nessa cidadezinha, tão logo eu decida ir embora).

Queria que meu orientador me visse agora, escrevendo nua uma história, tentando seguir seus valiosos conselhos. Caminhei nua até a varanda e fiquei admirando de novo a praça verde, as piscinas, a roseira seminua, enquanto pensava no velho mestre, na minha mãe, nos meus amores e, mais que tudo, em mim. Demorei-me um bocado naquele vento frio antes de lembrar que estava nua e que a varanda ficava no prime

iro andar, plenamente visível para as outras varandas em volta e para a rua. Sorri, um pouco desafiando, um pouco desejando que algum passante desavisado me flagrasse e me imaginei sorrindo ali sozinha, pensando absorta se eu me importaria de ser vista...

Fui vetada de colocar uma foto nua, mas essa foto, tirada dias depois, ilustra o que eu estava dizendo. Achei essa foto divertida. Não tinha como ter muitas opções, não tirei muitas fotos minhas, uma vez que estava sozinha e não tenho o perfil de pré-adolescentes no orkut.

Viagem Comigo II


Então, cheguei, muito antes do esperado, à pousada absolutamente encantadora onde iria me hospedar.

Depois de trocar meia dúzia de palavras com o japonês da recepção e não entender nem metade do que foi dito, recebi a chave do quarto 09 e o japonês me despediu bom um boa noite sorridente, indicando de forma semi-compreensível o caminho e me deixando só e perdida e tive que subir 2 lances de escada arrastando minha mala absurdamente pesada. Provavelmente se houvesse mais um lance de escadas eu teria me arrependido de ter trazido comigo o computador, o DVD e um trilhão de textos para serem lidos em minha reclusão pró-dissertação. Mas com os dois lances me arrependi só dos textos...

Mas cheguei no quarto agradavelmente perfumado e me encantei com a infinitude de possibilidades que se abririam para mim, em minha solidão. Acertei cada chave na primeira tentativa, como se estivesse retornando para casa e já soubesse as chaves certas.

Despejei a bolsa e a pasta sobre uma mesinha de estudos a um canto, a mala pesada já esquecida no corredor e voltei para as chaves na maçaneta da porta e destranquei os cadeados de uma porta de vidro que se abria para uma varanda.

Respirei fundo o ar frio da chuva que devia ter caído há uma hora ou menos. No jardim à minha frente, uma roseira magricela brotara com uma única rosa vermelho magenta perfeita. Adiante das piscinas e da rua, uma praça toda verde entrecortada de caminhos e bancos de cimento me fizeram imaginar um passeio desses que as palavras dançam loucas sobre os olhos e tive, de novo, a sensação de que voltava pra casa.

Depois de aliviar-me da roupa apertada, lancei-me na mesinha, já ocupada com meus pertences. Organizei o notebook e o suporte de leitura e coloquei no canto o pequeno cinzeiro quadrado, única coisa sobre a mesa quando eu cheguei. De repente, me vi desejando um charuto e um copo de whískey e talvez um pouco de talento, pra me sentir Drummond, no espaço que criei.

Sem perder mais tempo, ocupei-me da mesa, a caneta de novo pronta e ávida para não perder nenhum segundo da pintura em movimento que as palavras são capazes de pintar.

E em seguida, a sensação já conhecida de insana liberdade, o impulso de sair e explorar toda a cidade como se tivesse acabado de compra-la e fosse toda minha. Porque assim são as insanas pessoas livres: elas se possuem e tudo passa a pertencê-las.


Na foto, a "minha" roseira em frente à "minha" varanda.

Viagem Comigo I


As fotos que tirei enquanto escrevia serão acrescentadas aos textos depois, quando eu voltar pra Brasília. A mulher da lanhouse não me deixa baixar elas aqui...

A Last Glance

Deixei a bagagem no ônibus e voltei correndo para lhe dar um últim

o beijo antes de partir. E quando fiz a curva não havia nada senão um vazio onde antes você estava. Voltei, tentando manter o bom humor, mesmo assim tive 2 ou três lágrimas para conter quando cheguei na minha poltrona. O ônibus partiu e fiquei em silêncio, deixando para trás as figuras da paisagem urbana de Bsb.

Um senhor barrigudo com uma trança até a metade das costas, andando de bicicleta; uma crente de blusinha azul e coque, abraçada com sua bíblia; um emo na parada de ônibus, com um alargador enorme na orelha esquerda; dois homens de macacão azul puxando com as enxadas areia para ser peneirada, numa construção; E, nos longos espaços verdes entre os prédios, um homem grisalho com os cabelos e barba desgrenhados, o peito moreno nu, brigando com uma árvore grossa na altura da 115 Sul. E, do lado de dentro do ônibus, eu. De fones de ouvido e chapéu, viajando sozinha e escrevendo com o balanço trêmulo do ônibus em movimento. Ouvindo música alternativa e escrevendo como se precisasse apenas do silêncio da solidão para que o bloqueio de meses se desfizesse. E tudo a minha volta fosse uma poesia pronta e só eu tivesse e só isso tivesse – a missão de destr

uí-la em palavras, porque nem todo mundo sabe ler antes de serem escritas. A poesia vem aos meus olhos pra o papel, como a lã do novelo nas agulhas de tricô, enquanto tento retratar toda essa beleza, mas sem saber desenhar.

Empreendo de novo essa viagem curta e solitária.

Fazia tempo que eu reclamava para mim que eu não me dava mais atenção, não gastava tempo comigo. Resolvi fazer essa viagem só eu e eu mesma, para me reaproximar de mim. Vou só, com todas essas minhas lágrimas contidas: vou gastar tempo comigo, pra não me perder.


Na primeira foto, a vista de Brasília no momento da partida. Na segunda, as paisagens da estrada, no exuberante verde brilhante e vermelho na terra na época de chuva aqui do cerrado.

domingo, 1 de novembro de 2009

Fotógrafa de Nuvens (II)


O fim de Outubro, enfim...

30/10/2009

E lá se foi mais um Outubro. Rarefeito, esvaziado, ele se foi.

Às vezes acho que estou tão ocupada que não tenho tido tempo para introspecções.

Ás vezes penso que ando tão introspectiva que os pensamentos não se tornam concretos e, por isso, mais voláteis do que de costume e nada fica, senão um espaço vazio. Um tempo que não vi com que gastei.

Apatia, ou coisas demais pra gastar tempo percebendo meus respondentes.

Penso bem racionalmente, e escolho sempre o caminho mais difícil, mesmo que o mais fácil pareça ser também o mais “correto”, se é que tal coisa existe.

Só me sinto satisfeita com tudo o que realizo, mas vazia, por achar que minhas realizações são friáveis, transitórias ou simplesmente por não estar realizando nada por mim mesma. Por trabalhar tanto e continuar sem ter cortinas na minha casa, sem poder fazer meu curso de cênicas, escrever a dissertação.
Sou uma fotógrafa de nuvens.
E esse outubro não foi mais que um longo, longo dia nublado.

Dias de Sol – Levando as crianças no zoológico


Para os dias bons e extremamente leves que intercalam minha rotina de fatalidades.


"Um retrato falante na parede, suas receitas de sucesso no fogão. Um tapa na cara da realidade. No dia zero de 2000. O vento bate ondulando a sua saia, o seu sorriso é um calendário maia...”

Um dia de sol e me encho de protetor para enfrentá-lo sem fugir para a penumbra. “O sol não é amigo de nós, branquelos azedos”. Aumento o som, sorrindo, a lembrança boa, enfim, como a chuva que passou.

Sua voz insistente, como um pernilongo tocando violino sobre meu rosto, enquanto durmo. Como se seu sussuro ficasse retumbando sempre, trilha sonora dos meus dias.

Volto a lembrar de você com uma leveza, de quem não pode perder o que nunca teve. A vida vindo, as árvores dançando na brisa leve do fim da primavera, verde e florida.

“Alguma coisa traduzida do latim. O seu olhar misterioso sobre mim...”

Paro de pensar em você, e te deixo ali do meu lado, distraída pela gargalhada gostosa do meu sobrinho querido, feliz comigo. Fico rindo com as crianças no banco de trás. A plenitude da felicidade. As letras trocadas fazendo sons cotidianos se tornarem a coisa mais deliciosa do mundo.

“O seu relógio de ponteiros geniosos não se preocupam com o horário de verão...”

E eu, que quis entrar em frente ao espelho quando o tempo chegasse, o vi chegar muito antes do esperado e presenciei o surgimento de cada ruga orgulhosa... E ainda mais orgulhosa, por ser o vinco marcado pelo meu sorriso constante. O que não quer dizer que não tenha sido doloroso, muito menos que eu as tenha aceitado sem lutar. E lutar contra elas foi ainda mais doloroso. Mas quando olho no retrovisor as crianças e seus cata-ventos, me importo cada vez menos com isso.

“É a aparência levantando a sua saia, o seu desejo de fugir da raia. Abrindo os olhos para as coisas lá do céu. O seu olhar garante o palco e o papel”.

Sofro meu Outubro com minha loucura instável, mas plena e feliz, e leve e completa. Não com ele opu com você. Só comigo mesma, do jeito que sempre disse, mas nem vi que quis.

Porque sou sozinha e o serei sempre.

Foi o que fiz do que foi feito de mim.

Já não tenho medo de nada, nem da solidão nem da vida, nem do fim.

E gosto ainda muito, mas muito mais de mim assim.

Gosto da minha companhia, gosto do que vejo no espelho.

Não há mais sombra nos meus olhos, nem escuridão que me assuste.

Só eu.


* - entre aspas: "Dia Zero" da banda watson, que eu ouvia no carro enquanto íamos para o zoo, as crianças ansiosas. Quem quiser conferir acesse www.bandawatson.com.br


Borderline

Alguns dos péssimos textos de Outubro. Não tive tempo de escrever muita coisa. Aproveito o início de minhas férias, só pra registrar. Deixo os que são impublicáveis para os dias que não fizerem diferença. E minhas palavras para dias melhores.
Chuva e sol, lágrimas e sorrisos para todo mundo.
Um bom novembro!

Sementes de Outubro

Este ano as estações se anteciparam e tive um gostinho amargo do outubro que estavapor vir desde agosto. Ou antes.

O frio me trouxe a perspectiva de que talvez não chegasse, mas um dia amanheceu ensolarado por uma semana e veio a chuva como se fosse novembro.

Eu pareço sentir com a primavera, alternando lágrimas e sorrisos, amargando uma decisão sem volta. Um “quando” ecoando no fundo dos cenários.

E é nesses dias que, sozinha, me lembro de quem não sou.

Quando sou o que não quero ser, sou covarde e presa na minha cadeia ontogenética. E para descontar, desconto na única pessoa que não quer sair do meu lado.

Meus amigos são de mentira.

Eu acabo sendo quem eles querem, da mesma forma que em casa.

Eu não sei de mim, quem quero ser. Apenas não sei.

Minha única amiga é esta caneta e nem ela é totalmente honesta...


sábado, 3 de outubro de 2009

O carro no Telhado

Atendendo a pedidos...

E, bem pra inaugurar meus escritos de Outubro, tenho um sonho desses. De novo, como naquele em que estávamos na antiga casa do meu avô, sei que você está lá, na sala de televisão dessa vez, mas não te vejo. Não vou lá me encontrar com você. Mas fico tentando limpar tudo, arrumar tudo, para que meu hóspede queira ficar, tenha uma boa impressão de mim, de nós. Fico andando como uma louca de um lado para o outro, assombrada pela presente ausência de um ou mais, que já se foram.

Pior é acordar ansiosa, com essa saudade e como estivesse prestes a matá-la, como se fosse vê-lo sair da cozinha com uma caneca de café e um sorriso.

Tanto tempo... E ainda não fui capaz de assimilar que você se foi para sempre, que me iludo em pensar que eu talvez possa ter mais uma, só mais uma de nossas conversas inteligentes, com todas as mudanças que eram capazes de operar em mim. Que não me deixou de herança sequer uma frase escrita para que eu pudesse me suportar. Nada para me dizer de novo e de novo o quanto admira minha paixão pela vida, só pra que eu não pense em morrer. Pra eu nunca mais tratar a morte com frivolidade, diante de sua dor e indignação. Pra que eu não tenha preconceitos ou faça distinções de gênero e sexo, só porque você percebe que eu o faço mesmo sem saber que havia outra forma de ver a vida.

O Alexandre fecha os olhos e tira o carro do telhado escorregadio por mim. E eu fico desejando que você volte, apareça me olhando por cima dos óculos, só para você ver que hoje sou tudo que você me ensinou ser e que, talvez, hoje eu mereça sua admiração como você mereceu a minha.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Edição de Outubro

Corre, corre, corre.

O vento balança as árvores verdes, fazendo surgir do céu uma cascata de folhas e flores amarelas, rosas, roxas, laranjas, brancas, vermelhas.


Você não adora Brasília na primavera?


As estações se atropelam, indecisas

Choveu, fez frio e os dias cinza fazendo as tardes parecerem madrugada por algumas semanas.

Ficou seco e frio,

Depois seco e quente,

Depois tão quente que choveu.

Ainda não sei se uma estação foi eleita até o fim dela

Ou se o calor poeirento de Samambaia será novamente substituído por dias frios e secos, ou secos e quentes ou se vai ficar tão quente que choverá no fim da tarde até a manhã do outro dia. Se novos dias cinza virão, ainda antes de chegar o verão.


E paro alguns segundos, enquanto me policio para não estressar com o transito, nem enterrar minha cabeça entre os ombros, paro para captar todo esse movimento. A dança da folhagem caindo lenta na ventania, indo longe, as paisagens de nuvens que só duram alguns minutos, imitando uma onda do mar lavando a praia, sob o sol. Estas cores, cheiros, sons de Brasília entrando em Outubro.

E, como se eu nem me lembrasse dele, ele chegou de mansinho pra me encontrar correndo e sem tempo de interromper a correria, para descansar num paraíso de palavras.


Corro, corro, corro.

Atropelando a mim mesma, no processo de chegar em mim.

Muitos esquemas de reforçamento, pra que eu seja capaz de discriminar.

Muita vida, pra que eu tenha tempo de escrever.


Só viver, só viver.

A vida não pára no ponto pra embarcar, vamos todos pendurados nas laterais, agarrando como for possível.

Corro, corro, meu corpo. Morro.

Tão cansada e ainda tanto a fazer.

A ponta dos dedos escorregando do pára-lama.

Corro, corro, canso!

Pra, tão satisfeita comigo, fechar-me para assistir ao espetáculo da dança das palavras por trás das pálpebras, mas sem tempo para dar à luz os textos, as músicas, a arte.

Ficam só pra mim, egoísta.

Me desvendando, explorando, descobrindo. E me conheço melhor, seduzida por elas, dançando no ritmo delas, criando e executando em tempo real, concomitantemente.

Gosto de mim assim. Gosto do que fiz de mim.

E vivo, de novo, intensamente cada segundo.

Aprendendo e reaprendendo a amar, a me amar, a desfrutar da existência

De tudo


Sorrio, marota, pra esse Outubro ainda tão jovem. Nem sei se pronta pra ele, mas sem dúvida pronta pra olhar para trás, rindo, quando ele passar. Se um bom Outubro, só mais alguns dos bons dias em que colho do que planto. E, se for dor, para vê-la depois ao longe, como um pedaço, um detalhe, uma pincelada, da obra de arte que fiz do que foi feito de mim.

domingo, 19 de julho de 2009

Episódio de Mania

Tentando me reorganizar.
Espero que gostem do novo layout. A idéia é ficar mais organizado, tem elemento gráfico sobrando, mas não consigo tirar mais nada.
O mesmo tenho feito com minha casa.
O mesmo tenho feito com minha vida.

Agora que não tenho mais que fingir que não tenho sonhos ridículos e metas absurdas. Agora que já "cheguei lá", agora faço novos planos.
Aí decido parar de enrolar e terminar minha dissertação. Meu prazo é agosto. Voltarei das férias pro meu último semestre com a dissertação pronta só para correções. Só que ainda nem comecei.
Esse semestre leciono TACI - Terapia Analítico-Comportamental Infantil.
A Laércia, genial, adaptou o script pra eu usar minha própria metodologia de ensino e mais: vou poder desenvolver a temática de acordo com as áreas que me destaco - ECA, psicoterapia de adolescentes, FAP.
Maravilhada com o que fiz de mim esse ano, e essa é só a primeira metade.

Aí eu defendo no fim do ano.
E presto vestibular de novo. Seguir a carreira que não tive coragem de assumir que desejava há 9 anos atrás. Ter novos sucessos pra perseguir. Correr novos riscos, porque o Alexandre já se posicionou contra essas decisões - ele tem medo do que posso fazer, estudando cênicas. Eu admito o risco, só que sem a parte do medo.
Tenho só essa excitação, essa sensação de poder - de saber que posso, que eu consigo!
Em janeiro entro pra um curso de fotografia, quer passe ou não no vestibular. E vou estudar até conseguir minha exposição. Minhas metas não parecem ilusórias agora. Algum de vocês concretizou todos os planos que fez para uma vida inteira antes dos 25? Eu sim. E agora preciso de novos planos. Se eu consegui da primeira vez, devo no mínimo chegar perto nessa nova fase.

Essa semana comecei um programa de treinamento pra correr. E me senti tão capaz! Meu corpo gritando em protesto e eu argumentando com ele calmamente de que quem manda aqui sou eu. E venci!

Hoje desci com o Akamaru, o Alexandre fora prestando concurso. E uma moça me parou pra pedir meu telefone.
Longe de corresponder às expectativas de vocês, Vanessa pediu meu telefone pois tem uma maltesa de três anos que nunca cruzou e está no cio!
Eu consegui uma namorada para o Akamaru! - E já estou sonhando com o filhotinho!

Ai, que sensação boa a de ser eu!
Minha vida não poderia estar mais perfeita.

Sim, eu também notei que estou entrando num episódio maníaco (nota mental: ciclos de 7,8 meses), mas não estou com medo do que vem depois. Estou tranquila e satisfeita, por saber que as decisões que tomo agora, os caminhos que traço pra mim, se tornarão obsessões para as fases seguintes.
No fim das contas, eu estava certa. Bom foi continuar escrevendo, pra que eu mesma pudesse acompanhar meu processo de enlouquecimento. Me leio aqui ao longo do tempo e sei exatamente o que esperar de mim.

Depois descrevo melhor essa fase. Está difícil até de me manter sentada até o final de um texto... rs

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Piece of Art - Art for Art's Sake

Uma placa na esquina
E sou atingida, devorada por um senso de sentidos
Um despertar de algo nem estava adormecido
Alerta para a beleza em cada pequeno pedaço
De tudo.
Arte está na íris
Está nos olhos, nos punhos cerrados
Na placa da esquina
No reflexo do sol nos vidros fechados.
Em cada clique do celular que tira fotos
Em cada arfar de um peito cansado
No suspiro que ante vem uma nota aguda
No toque da guitarra, no baixo, na tuba.
Arte é o calabouço das pessoas livres
Arte destrona, nos faz lixo
Ao mesmo tempo em que exalta e enriquece
Desperta os instintos, racionaliza
Agride e acaricia
Arte está no tom
Está no grito longo de uma freada
E no milésimo de segundo da batida
Arte está no deck e no baralho
Na boceta e no caralho.
Em dois corpos que se unem
E se separam encharcados
Arte está na expressão
Do pensamento reprimido
Está no jogo e no choro
Está no silêncio após uma foda bem dada.
Um pôr-do-Sol, um mato queimado
Nessa ausência que se encaixa no peito
Cada vez que te vejo e não te tenho
No desejo de ficar e de prender
Na necessidade de ir e deixar ir
Arte está nas diferenças
E no respeito a elas
Nas arandelas do ciúme
Na gratidão do zêlo
Arte está nesse corredor vazio
Que você chama de vida
E eu de pesadelo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Curtindo a Vida Adoidado


Tenho buscado curtir cada segundo de mim.

Uma semana após o falecimento do meu avô, e de diversas reflexões de nossas últimas conversas tomei decisões importantes. E desdecisões também.


Aí, coloquei um piercing, que era algo que sempre quis fazer. E atribuí a ele um significado, como todos os outros furos que já me fiz. O desse é que eu não quero chegar no fim da vida enumerando o que quis fazer e não fiz por um ou outro motivo. Faço e pronto.

Ando como uma locomotiva, sem desvios, no caminho já traçado. E nada deve ficar na minha frente, senão minha própria vontade ou desvontade. Pelo menos enquanto eu ainda sou jovem o bastante para meus erros tolos, mas não vou ficar evitando até ficar velha. Nem sei se vou chegar lá...


A seguir, um breve relato dos meus meios, não de ser feliz, que eu já sou muito, mas o de viver a vida intensamente, cada segundinho.



"Não queria deixar de registrar todos esses programas.


Acho que nunca farreei tanto na vida. Ainda não descobri programa em Brasília que eu não tenha ido. Por favor, me avisem o que eu estou deixando passar.

Amo essa cidade. As pessoas são fechadas em seus próprios círculos, mas uma vez que você está dentro, está seguro e protegido. Não tem muitos programas, então você tem que saber procurar, tem que se tornar a própria diversão. Tem que estar disposta, em vez de reclamar de tudo. Ódio à Brasília já virou um estigma às pessoas de fora.

A verdade é que a beleza, a diversão, a diversidade, o lado bom da moeda não está no ambiente externo, está “dentro da pele”.


Estou aprendendo, crescendo academicamente, me redescobrindo, tomando novas decisões, sendo mais autêntica, mais autônoma, estou envelhecendo e precisando de mais descanso que antes, estou mais bonita e desinibida que nunca e colocando na minha vida tudo de que gosto e tirando o que não me faz bem.

Estou tentando. E tentando de novo".


“A vida é uma caixa de Skinner: pressione a barra!”

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Crepúsculo


"Nasce o Sol e não dura mais que um dia
Depois da luz, se segue a noite escura
Em tristes sombras morre a formosura,
Em profundas tristezas, a alegria"



Rápido demais, se põe o sol no horizonte, deixando nada mais que escuridão.
Ele nem viu o sol nascer.
Assim vai a vida solta, ninguém pode prendê-la.
Enclausurada numa semente, cai na terra e germina.
Dali seus galhos se extendem para ganhar flores, produzir frutos, se tudo der certo, gerar novas sementes.
E hoje ficamos todos ali, a grande plantação do humilde agricultor. O homem simples.
Nunca teve a arrogância de tentar produzir filosofias de vida, grandes ensinamentos. Era um homem da natureza e, como ela, ensina sua lição nos seus passos, despretencioso.
“As pessoas falam que 50, 70 anos é pouco, fia, mas pra quem vive isso é chão dimais! Óia, eu nem lembro mais direito da minha infância!...”
Mas as mil histórias da infância não saem da ponta da língua. Cada terra, cada plantação, o nome de cada gente que tropeçou em suas raízes, que pisou na sua terra.


"Porém se acaba a luz, porque nascia?
Se é tão formosa a luz, porque não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim de fia?"



É que agente não aprende a ser feliz, agente simplesmente fica. Vôvô fazia isso, por que era feliz, porque vivia, não porque quisesse ensinar alguém, porque quisesse mudar a vida de ninguém. E ninguém mudava o curso da dele.
Ô tava, ô num tava.
“Se eu miorá, nois vamo chupá quelas laranja que eu plantei. Plantei de todas. Daqui 3 anos vai ter laranja demais.”
Termina uma vida sem arrependimentos, leva a leveza nos ossos. Sucesso é um pimentão verdinho, um pepino bem reto e graúdo. Sucesso teve muitos! Muito mais que a gente, besta, vai ter, tentando salvar o mundo.


"Mas no Sol e na luz falte a firmeza
E na formosura não se dê constância
E na alegria sinta-se a tristeza"


Fica só a saudade. Saudade boa, de algo que foi até o fim. Sem olhares pra trás, sem ditos por não ditos. Saudade doída, daquelas que não dá pra matar.
O bisneto chorando baixinho, de saber que não pode mais ver o vôvô. A voz firme, aprendida com o velho, que com ele nem era tão firme assim.
Ele imóvel nem mesmo era ele, quem nem dormindo ficava quieto.
Fica ele de volta à terra que tanto amou.
E comigo só minha covardia, que não suportei vê-lo piorar.
A vida se foi, leve como ele a levou. Simples como é a vida.



O sol se pôs, rápido demais. Sempre mais do que a gente queria.



Ficamos, sós, na escuridão.



Rápido como o dia,


a vida termina.




"Comece o mundo enfim pela ignorância
Pois tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância"

Um beijo e um adeus, pro meu vôvô Kazuó.

domingo, 19 de abril de 2009

19/04/2009 - Domingo


Hoje, em pleno meio dia, decidi ir passear com o Akamaru.
Ainda ontem, no mesmo horário, torrei no sol, lamentando não ter passado protetor solar. Hoje, senti o cobertor frio do inverno nas costas. Olhei e vi o céu azul límpido, nenhuma nuvem sequer.
Brasília só tem duas estações: quente-e-chuvosa e fria-e-seca. E a transição de uma pra outra. Não pensei que sentiria falta do frio.
Parece que eu mudo com as estações, me norteio pela nostalgia de cada uma. Minha memória é olfativa, é tátil. Sinto na minha pele, com o frio, outros dias. O cheiro de fumaça, de grama seca. Nem sei o que isso me lembra, eu me parto em duas, achando agradável a sensação, como se eu estivesse ansiosa por sua chegada, mas sem a alegria que achei que sentiria. Pelo contrário, o prazer me deixa melancólica, como se faltasse algo.


Essa noite sonhei de novo com a sensação da perda da música em mim. Meus sons abandonados em um carro, na estrada. Ninguém os tocou e, quando volto a eles, percebo que de fato nunca fiz parte desse universo. A música não me quer nela, por mais que eu a deseje.

Mês passado recuperei minhas partituras, tirei a poeira do teclado, comprei um violão. Achei que tocava melhor agora, sem a prática e os calinhos nas pontas dos dedos, do que em toda a minha vida. Mesmo assim, já não faço parte desse mundo, talvez de nenhum. To sobrando! Sem nada a que me agarrar nesse universo. Flutuo só.

Acordo do meu devaneio, o Akamaru olhando interrogativamente para mim, muita corda da coleira ainda pra ele andar, mas parece esperar que eu ande com ele. Só pra provar que estou errada. Pergunto, meio idiota, se ele quer ir pra casa e ele sem hesitação vai em direção à portaria. Garoto inteligente!


Desisto de saber que sensação é essa, que memórias são essas. Chegou, enfim, o frio. Mês que vem vou à São Paulo, comprarei chapéus, luvas, suspensórios e um novo par de calças risca-de-giz. Vou assistir aos espetáculos que aqui não consegui. Vou criar novas memórias pra sentir falta. Cansei de descrever sonhos e nostalgias, ando pra frente agora. EU escrevo minha história.
_._
Na foto, eu, meus mullets e o akamaru na frente da janela no 20º andar. A vista mais linda do mundo, a vida viva de verdade lá fora.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Surto de Narcisismo - Tempo de Ser Bonita




Teve duas ocasiões em que ouvi algo sobre minha aparência que mudaram minha percepção de mim e, portanto, minha relação com o mundo. Hoje, em frente ao espelho, lembrei-me claro de uma delas, no C.A. de Psicologia na UnB:
“Você brinca de ser bonita!”
Acho que essa foi uma das coisas mais legais que já me disseram.
Quando ouvi isso ainda não era. Não entendia nenhuma fonte de desejo, nem as aceitava. Quando não era bonita, não me importava em ser.
Não gastava tempo em frente ao espelho, senão pra chorar e me amedrontar. O cabelo, meio curto meio comprido, ia desarrumado. Eu ia em camisas de flanela e tênis xadrez. Magra demais pra me importar com o que seria mostrado. Me contentava com sarcasmo e o humor macabro.
Agora, bonita e cheia de curvas, marco o meu tempo de mostrar, de ser vista, de ser bonita: as unhas feitas uma vez por semana, óleo corporal todas as manhãs. Mudo a cor do cabelo – agora em 3 tons de loiro – a cada seis meses e corto a cada 2. Rímel lilás durante o dia, preto se sair à noite.
Academia 2, 3 vezes por semana. Chocolate só uma. Sorvete, quase nunca.
Salto alto, 3 vezes por semana, e salto baixo outras 3. Tênis? Só pra ir pra academia.
Tudo do meu jeito, é claro. Gasto o preço de um colar em peças para fazer uns dez. E uso, quase todos os dias, o único jeans que ainda passa nas minhas pernas.
Aí, vem a 2ª: “Não tem outra de você não?”
Acho que os amigos não têm idéia de como uma frase dessas pode ser significativa. Ainda mais pra mim, que desprezo as ruins e guardo só as boas.
Quando não era bonita, não me importava em ser.
Não tinha o que mostrar senão um ódio estampado. Um out-door ambulante de indignação.
Então as pessoas tinham que descobrir se tinha algo em mim que valesse a pena. Sarcasmo e humor macabro.
Não tinha.
Agora me sinto tão plena, completa, perfeita! Não tem outra de mim...
Tanto que me dou oportunidade de ser o que eu nunca achei que poderia. Refaço planos, busco meios de me desarrepender, de desdecidir. Conquisto-me e apaixono-me todos os dias, reapaixono-me pela vida.
Engraçado, quando entrei na fase de não estar nem aí com nada, pra desdecidir e deixar minha vida interessante de novo, ter novas razões pra me apaixonar por ela, todo mundo se preocupou comigo. Menos eu.
A tristeza me faz feliz. Difícil é encontrar algo que não faça. EU me faço feliz...


A todos vocês que se incomodaram dos últimos tempos, obrigada. As boas falas serão sempre guardadas e inevitavlmente parte de minhas novas paixões.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

14º Sonho - 1º/04/2009 - Um Último Sonho

Esse é praticamente todo impublicável. Perdoem-me pelo excesso de reticências. É só pra não perder esse registro.



1º/04/2009 – Um Último Sonho

Com paciência, pois nem consigo organizar as idéias, que dirá poetizar sobre elas.
Fato é que tive mais um daqueles sonhos e acordei sem pensar em nada mais a fazer, senão chorar.
De repente parece que consigo descrever essa dor de que tanto falo.
É como um contínuo conter de lágrimas, a pressão no peito, o nó da garganta, o aperto nas têmporas e o esforço ininterrupto de manter os olhos secos. É com isso que sofro.
Nesse sonho, não houve mistérios nem ausências. Tão real e impossível ao mesmo tempo! Tanto que me fez refletir de verdade sobre a verdade e doeu, dói, demais.
1º era meu aniversário e eu fazia pose para a foto, (...). Abraçada com minha prima querida e o Mickey – é só um sonho, não tem que fazer sentido! – O conforto de abraça-los é indizível.
Procuro aquele sorriso, destacado como a menininha na “Lista de Schindler”. O som da risada que eu nunca consegui apagar.
Mas, menina e envergonhada, fingi não tê-lo visto e como estivesse muito ocupada, ele se foi, sem que eu lhe falasse. Também não faz muito sentido que ele estivesse lá.
Não me incomodou tanto. (...), como se eu pudesse lhe falar outro dia. Uma eternidade de oportunidades.


Faço uma pausa para beber um gole de suco, na tentativa vã de empurrar esse aperto na garganta. Estou só, com uma pessoa que não gosta de mim. Queria que a Jaque chegasse logo. Por outro lado, acho que se ela chegasse agora eu desabaria no colo dela...


Então a cena mudou e conversávamos sobre tudo isso (...)E perguntou o que eu fazia lá dentro. E eu também não sabia (...)
E estávamos num deserto, talvez aquele mesmo da outra vez. (...)
Ouvi clara e objetivamente aquilo que nunca consegui expressar com palavras. E, embora eu sonhe (...) eu sei que aquela fala é só minha.
(...) pra explicar minha nova teoria à prova de erros e pra falar sobre arrependimentos e ausências. Tanto carinho, tanto conforto!
O rosto que nunca consigo lembrar, desenhado em detalhes, mas era outro tempo, sua pele envelhecida, queimada de sol (...). Nada tinha mudado em mim, dentro ou fora. Meus olhos brilhando num sorriso (...).
Mas nele eu sabia que acrescentar histórias não faria que eu o deixasse ir. (...) Foi como uma despedida.
(...)
Acordei com dor no peito (...) E eu não queria encostar nele. (...) Com medo de que ele sentisse a dor em mim, seu toque, seu cheiro, esse movimento todo de dor.
E, segurando a lembrança para que não se escoasse, pensei nela. E em como é urgente que eu aceite sua morte.
Daqui pra frente é só dor. Essa ilusão é só minha. Quando 2 virarem 3 e assim por diante, não será só mais uma possivelmente descartável mudança.


Eu não queria me sentir doente.


É porque Amo.

13º Sonho - 14/03/2009 – Outro, novo, sonho


14/03/2009 – Outro, novo, sonho

Sonhei hoje, de novo, com você.
E sei ter sido hoje, pois acordei, lógico, e não mais pude dormir, inesperado.
E tudo o que restava da minha já cambaleante muralha de ego, ódio e talvez, moral, despedaçou-se de vez.
Desta vez você estava presente por sua ausência e, por ser mais real que os outros, desta vez fugia de meu inevitável encontro.
E, pega de surpresa, ainda toda desfeita e bagunçada, te abracei no silêncio confuso do esgotamento das palavras, todo o desejo contido.
E os beatles ensaiavam na areia, perto daquela favela de alguns sonhos atrás, onde me perdi, e esse novo John Lennon usava um casaco vinho, como o que usou quando esteve em Portugal.
E o desejo reprimido virou discórdia e o fim de minha aliança.
Não havia mais como nutrir o desejo de romper, rasgar, esgarçar.
Eu te destruiria, se pudesse.
Olhei para trás, para minhas mãos sujas de areia que você não desejava e, embora te conhecesse, pois era um sonho, não pude me aproximar de tamanha celebridade.
Restando só o desejo cor de vinho, avassalador, que se manteve também na minha vigília, destruindo, de novo, a frágil e difícil muralha que, a duras penas, tento erguer e reerguer.


Fugir...

12º Sonho - 05/03/2009 – Outra Noite


05/03/2009 – Outra Noite

Mais um sonho e, mais uma vez, você esteve presente apenas por sua notada ausência.
(...)
E não me envolvia, nem socializava naquele estranho lugar isolado, porque te esperava.
E te esperar era mais importante que fazer música!
E acordei com a sensação do meu 20º aniversário, tudo de novo.
E sua ausência fez todos se tornarem não mais que imagens borradas, vultos, sombras, formas, fantasmas.
Eu sempre assombrada.
Acordo convencendo-me de que nada me importa mais do que minha música, sabendo que já escapei pelos seus dedos há tanto, tanto tempo.
Compôr...

11º Sonho - 02/03/2009 – Um Sonho Novo


02/03/2009 – Um Sonho Novo

Cheguei da ICT, em seu 50º aniversário. Corrompida pelo desejo, pela beleza.
Aí sonho que eu e o Alexandre estávamos juntos, indo a algum lugar e, por algum motivo, num ponto eu vou carregando ele nos braços.
Me sinto feliz, tranqüila e plena e ele leve como uma pluma e estávamos num deserto cheio de calor.
Lá longe haviam poços de água, como várias piscinas naturais de água bem azul. E como fosse um oásis, a água sumia e voltava, várias pessoas por lá.
Eu decido desviar meu caminho até lá, a pretexto de jogar água na cabeça do Alexandre, pra refrescar, mas a verdade é que desejei ir, como aqueles sonhos loucos de ir pra Caldas.
Quando a água começa a sumir, percebo que é sugada pela terra e nada mais há senão uma pasta de areia. Lutando como se aquilo fosse areia movediça, olho as outras pessoas se firmando pra não sucumbir, mas não pareciam fazer tanto esforço quanto eu.
E quando a água sobe de novo, faz uma forte correnteza e, embora eu procure e tente recuperar, quando me equilibro e me firmo de novo, já não encontro o Alexandre. Chamo, chamo, mas o perdi.
E continuo meu caminho certa de que cometi um erro indo às piscinas, mas sem realmente me importar muito. Até chegar no que parece uma escola, onde o próximo passo é ensinar, embora eu sinta que estou lá para aprender.
Queria ficar confusa com o que posso aprender desse.
Ninguém. Só eu e ele. E o fim continua sendo um só.
Até onde?

terça-feira, 7 de abril de 2009

8º, 9º e 10º Sonhos - 14,15 e 16/12/2008


16/12/2008 - Three days, three dreams in a row.

The first, the last.
The second , before, again and after
The last, the one who’d never’s gone.
Not really. Even if a try, and i tried.
The first, violence, passion, and lust.
Blood and sweat.
Regret, pain, relief, madness.
The second, peace in a place. Never on me. Calm, warm, patience, happiness, love, perfection, past.
Geography! DdA. Sweetness.
Nothing else to say. We finally (already) know what to do.
The last, could be reality. All the same and again.
Leave the church to hang around and never, ever reach the place.

Everything’s a dream, never’s done.

7º Sonho - 17/09/2008


17/09/2008
Sonhei que batia. Habilmente batia num pedaço do meu passado que eu guardo com mágoa, com vontade de por pingos nos is. Daqueles redondos e vazados por dentro.
Um passado tão guardado que eu já nem sabia que doía tanto.
E nem foi por falta de falar.
O pior foi ouvir que a culpa foi minha. E matar do ventre quem eu julgo ser verdadeiramente culpada.
E dor demais pra não começar no SARAH. E essa nem apareceu embora certamente estivesse lá mencionada.
Eu? Como pode ter sido eu a fazer tudo isso?!
Maldito passado! Ainda dói demais pra não existir...

16/12/2008 – revisitado: E não faço idéia do que aqui está dito. Os sonhos escorrem de mim como água entre os dedos...

6º Sonho - 12/05/2008 – O último Sonho


12/05/2008 – O último Sonho

Sonhei, de novo, há bem uma semana.
Sonhei que tinha câncer, bem na base da coluna, talvez por causa da dor real. Mas o prognóstico era bom, eu quase podia vê-lo murchar. E ganhei carinho, e todas as minhas decisões, guinadas e desistências eram corretas e sem culpa. Encostei em sua espádua minha cabeça, como devo ter feito uma única vez, senti com minhas costas seu abdome, que foi a última coisa que senti.
E haviam sorrisos, braços, ameaças de beijos, que é o que mais gosto.
E estávamos de novo na adega, saindo dela. Sentados em volta de uma fogueira, livres, felizes, juntos.
Havia um alívio feliz nos meus últimos dias que se prolongavam, e tristeza e melancolia, mas toda a mágoa murchava com meu câncer. E você me perdeu e achou justo por tudo o que não fez, por tudo que não foi, que não soube.
Acordo feliz e te amando e trazendo de volta velhos amigos, inimigos e fantasmas.
Errar...
Quase impossível ilustrar esse. Notem que seria um pesadelo, mas acordo com sensação boa. Talvez esse seja o único com essa propriedade.
Notem que o anterior tem o 4º e o 5º num só escrito.

4º Sonho - 03/05/2008 – Mais uma vez


03/05/2008 – Mais uma vez

Cai mais uma lágrima. Ouço seu baque contra o travesseiro.
Nem os sonhos importam mais. Foram dois mês passado. Um grande susto, acompanhado pela perda da fala, da voz, do fôlego.
Essa eu é quase uma alucinação, o som de uma menina menina pra sempre.
Presa em perdas, em solidão, em dor.
Essa menina só existe na solidão, e sonha acordada e ri, e se afoga em memórias, e em pranto.
Lembro da mamãe, insistindo em saber porque eu chorava, iludida ainda que eu tivesse probleminhas banais de adolescente. Acho que foi ali que minha alma se partiu. Não lembro de outras vezes.
Foi assim que o Marcelo me restituiu a vida e me presenteou com a dele.
O que ele faria agora? Não sei.
O que ela faria agora? Não quero.
O que me diria qualquer um se eu pudesse um dia dar voz a essa pergunta?
E se eles soubessem...?
Pare de ouvir o John.
Pare de pensar...

domingo, 5 de abril de 2009

3º sonho - 26.02.2008




Sonhei com um rei, um juiz, um bobo-da-corte e com sua corte toda.
Escravizador maligno, demoníaco.
E estávamos todos presos na sua malignidade, demoniocidade, escravidão.
E eu o procurava, como se minha presença algum dia tivesse despertado sua complacência. Senti-me Moisés, tentando libertar o meu povo. Libertar-me. Ou aprisionar-me segundo sua vontade soberana. Demoníaco, Rosicrucianum, Ditador.
Seu rosto se deformara com as transformações ocorridas. Eu, prisioneira, escrava, ridícula, humilhada, pequena e humana.
Tinham pessoas demoníacas e demônios e lama,onde em outros sonhos houveram piscinas claras.
E dor e calçados descalços, pés quebrados, sem nunca encontrar meu inimigo.
Grande demais pra mim.

2º Sonho - 19.01.2008 – Espirais




Sonhei que era um espiral, sonhei com um grande poema inacabado, com um vestido que não queria usar. Com um forro de mesa de filó laranja no babado. E com aquele sorriso misterioso. Agora eticamente em dobro.
Um beijo no rosto e tenho que ir, de novo para aquele ônibus infernal. Não entendo porque não ir embora de vez, dessa vez.

Espirais são estranhos de se ver por dentro.Eu era como a última caixa de fogos-de-artifício de Fred e George. Um novo Josh absurdo à minha espera. Perfeito demais para ser bom, e um poema que não consigo terminar: começa bom demais, depois já não sei o que ia dizer, até desistir. Primeiro, tomada por gravuras de dragões e espirais, depois com sonhos absurdos, que não desejei.


Cuidado agora.

1º sonho - 26.12.2007


Claro que não é o primeiro, mas o primeiro desses que registrei nas páginas negras do meu Death Note. Começa com um poema.


Um Poema de Cor

Eu queria ser de circo
Ai, que vida original!
Trabalhar todas as noites
Divertindo o pessoal.
Os aplausos da platéia
Toda aquela vibração
Sempre novas gargalhadas
Sempre mais animação.

Eu queria ser de circo
Conhecer os bastidores
Que a platéia nunca vê
Ver de perto os domadores
(...)
Ver a cara do Palhaço
Sem pintura e fantasia
E ver se a mulher barbada
Faz a barba todo dia
(...)
Só não sei o que faria
Que função ia escolher
Pois o circo é variado
Tanta coisa tem pra ser

O trapézio é maravilha
só que está longe do chão
e engolir facas ou fogo
não é boa ocupação.
Ser mágico eu não quer
Eu seria incapaz
Pois o truque perde a graça
Se eu souber como se faz...

26.12.2007
Sonhei com um anfiteatro, com uma bola de basquete, com objetos histórico e a posse deles. Tinham pessoas em fantasias – “veteranos” – inclusive minha mãe. Eu estava acuada e de boné. O Palhaço usava peruca de lã colorida, porém desbotada e aquele chapéu-côco. Sem pintura.
A alegria se tornava cruel, até de quem não costumava ser.
Dias difíceis estão por vir, eu sinto.

sábado, 4 de abril de 2009

Espectro de Sonhos

Só para abrir a temporada de publicação de textos antigos, posto o link de um dos textos da Clau, do qual me sinto fazer parte.
Os próximos textos se referem aos treze sonhos que tive no último ano, e que decidi publicar seguindo sugestão dessa amiga, cuja escrita faz a minha sentir vergonha. Obviamente ela me deu permissão para isso.

http://espectro-de-sonhos.blogspot.com/2009/01/movimento-periodico.html

Se os próximos textos forem um saco, só tenho dois argumentos em meu favor:
o primeiro é que, pela ausência de sentires, a outra opção seria ficar muito tempo sem escrever nada aqui.
o segundo foi que a idéia de postar os sonhos foi da Clau. Reclamem com ela. :p

E tenho um argumento contra: sinto que faz muito tempo que eu não escrevo nada de que me orgulhe, então... Choveu no molhado.

Para os que gostam das ladainhas, muito obrigada a vocês dois pela presença.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Black - Ten


Hey...oooh...

Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay

Were laid spread out before me as her body once did

All five horizons revolved around her soul

As the earth to the sun

Now the air I tasted and breathed has taken a turn

Ooh, and all I taught her was everything

Ooh, I know she gave me all that she wore

And now my bitter hands chafe beneath the clouds

Of what was everything?

Oh, the pictures have all been washed in black, tattooed Everything...


I take a walk outside

I'm surrounded by some kids at play

I can feel their laughter, so why do I sear

Oh, and twisted thoughts that spin round my head

I'm spinning, oh, I'm spinning

How quick the sun can, drop away

And now my bitter hands cradle broken glass

Of what was everything

All the pictures have all been washed in black, tattooed everything...

All the love gone bad turned my world to black

Tattooed all I see, all that I am, all I will be...yeah...


Uh huh...uh huh...ooh...

I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star

In somebody else's sky, but why, why, why

Can't it be, can't it be mine



Desde que comecei a ter sonhos com trilha sonora, essa foi a mais terrível para o pior de todos eles. Parece que o venerável Sr. Vedder andou dando umas voltas no meu cérebro. Alma. O que quer que isso se chame. (Não confio mais na psicologia acadêmica, então essas questões acabam voltando, embora agora não tenho quase relevância alguma para nada.)


A seguir, os treze sonhos.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Esmagada.


Esmagada por meus sonhos, pelas guerras que perdi.
Eu estava destinada a elas e, por não alcançar, eu criei as minhas próprias.Lembra-se daquele Taj Mahal em Kirigami? Eu me lembro. Calada. (...)



Não há nada mais de espetacular naquela construção, senão um tedioso lugar-comum.
E, no fim de tudo, me sinto envergonhada. E covarde. E envergonhada da minha covardia.A Ju sussurra no meu ouvido seu apreço por nada ter que sofrer, fugindo, estando ausente das suas paixões. Eu grito calada, covarde mais essa vez. Se não houvesse paixões, não teríamos problemas, não sentiríamos dor. De novo, nos escondemos na rocha, pra não doer. Isolamo-nos nas ilhas, para manter os olhos secos. (...)



Encolho-me sobre meu peito dolorido: Eu nem mesmo tentei! (...) A cor foge dos meus lábios ao comprimir-me de desespero. Foi muito longa a espera. Aprendi a não esperar, mas era tarde demais!



Rápido demais perdi o controle da minha face, o rosto dormente. Senti medo dessa dor, fingi que não era real. Não ousei, não me libertei, não deixei ir, tentei avançar carregando todo meu passado nos ombros.
Não fui capaz. Nem mesmo o inconsciente no qual nem acredito me permite abandonar-me. Um sonho atrás do outro, remoendo amarguras. E símbolos, e reminiscências e segredos. Enterrada, sufocada, suplantada por meus segredos, enquanto me envelhecem os ossos e sou pisoteada por essas lembranças, cobranças, culpas.
Afogada demais pra deixar a ansiedade. Ansiosa por ficar ansiosa. Agoniada pela oportunidade de lembrar-me e, quando finalmente me lembro, sou abatida por minhas memórias. Muitas promessas não cumpridas. É só o que vejo no espelho. Meu segredo. Minha distância dos meus desejos mais verdadeiros. Minha força e minha vergonhosa covardia. Não vejo mais a morte no espelho, vejo a ausência da vida, minha desistência, minha existência vazia de paixões.
Sonho com este amor inexplicável, o bastante pra não esquecer. Mas atei-me à âncoras cada vez mais pesadas, para fugir, covarde, do que não consigo entender. (...)



Não há tempo, não há distância que tire isso de mim. Está escrito.






P.S: O texto prosegue por aí, cada vez pior. Texto completo apenas sob consulta.



P.S2: As fotos são a vista da janela do meu trabalho, num dia de chuva, tiradas num mesmo momento, mudando apenas a posição da câmera.

domingo, 8 de março de 2009

Coincidências


Dia 26 eu tive um sonho.

E como sempre sei dos meus sonhos, por seus registros, resolvi verificar, contar quantos foram em um ano.

E descobri que dia 26 de fevereiro do ano passado tive um sonho, quase igual. Como se um fosse continuação do outro, só que com exatamente um ano de diferença.

Ao todo foram 12 sonhos desse em um ano.

Sempre mais frantasmas pra me assombrar, logo quando penso que cresci e me livrei do assombro bobo dos meus fantasmas.

É assim que sou pisoteada pelos meus elefantes, porque minha memória me abate pela persistência e sou abatida por ela, cada vez que não consigo lembrar...


Fecho os olhos e imagens intrusivas parecem queimadas na minha retina, não somem, não vão embora. Só este extenso cemitério de elefantes com suas carcaças expostas, os ossos secos como esculturas em homenagem a um passado jamais enterrado.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"The One who gives. And takes away"

“...e nunca volta, sabia? é a gente crescendo. A gente nunca para de crescer. E não tem como descrescer. não tem como desamadurecer...”




Hoje ainda pensava nas baboseiras que o Paulo me disse tantos anos atrás. Eu ouvia em silêncio, como nem mais consigo fazer cheia de mim e de achar que sei de tudo, eu o ouvia calada. Admirada de sua capacidade de filosofar de refletir.
“Esse dia que se foi nunca vai voltar...”
E eu achando que entendia e perdida, menina demais, por trás dos meus olhos brilhantes do pôr-do-sol.

Naquele tempo eu fazia música e a música me fazia, fluía dos meus braços, do meu corpo, da minha voz, hoje calada, colada pela falta do uso.
Naquele tempo toda baboseira virava poesia. E as palavras me definiam.
Depois fiquei “racional” demais pra poetizar, pra entender o abstrato, pra entender o que seria ouvir a voz do coração.
Hoje sou tão real que não crio mais histórias, tudo que escrevo é “Biografia de uma desconhecida”.
Uma vez entendida assim, tenho a ilusão de que poderei voltar a escrever, usando a imaginação. Ouvindo a voz do meu coração...
Talvez agora eu possa!
Hoje eu sou uma pessoa muito melhor, mais real, mais humana, feliz e ridícula. Hoje sou ninguém.

Talvez hoje a música passe pelos meus braços e saia como uma música da Ivete, que eu nunca gostei, mas que atravessa as pessoas com uma energia boa.

Talvez as próximas poesias nos meus lábios não sejam pra fazer chorar, nem pra contagiar com sofrimento. Talvez as próximas histórias tenham um final feliz.

Talvez essa música aprisionada atrás do espelho seja mais eu, do que as que fiz, com um sentimento que hoje rejeito, embora eu saiba que minha rejeição não o fará partir. E quando eu finalmente cantar ela soará como meu cheiro, e o tom tenha a leveza que carrego hoje e a melodia fale com o movimento que hoje têm as minhas mãos, o sorriso que não é um esforço e traz nos meus olhos semicerrados.
Talvez essa música possa sair sem me estrangular a garganta com choro incontido. Nesse dia minhas mãos não irão tremer.

Espero esse dia, com os olhos secos.

Até que ele chegue.

P.S: Casting Crows #2

sábado, 10 de janeiro de 2009

Virada de Ano


31/12/2008


Vamos aí, mais um ano. Abrupto! Nem estava pronta pra ele.
Ás vezes me tento a pensar que é só um dia atrás do outro.
5ª é feriado e eu trabalho na 6ª.
Mas não posso, não quero.
Marcos de existência, contagem de tempo, existiram desde antes de eu aprender a sorrir e só fizeram sentido depois disso.
Um ano é muito tempo!
Menina e pura, desejei na última virada uma grande mudança de vida e a vinda de dias felizes e saudáveis.
Dentre o medo e o alívio da bem-sucedida cirurgia do Regis, o Alexandre parar de fumar, o mestrado, uma inesquecível viagem de família à plena recuperação do meu irmão (com saldo positivo, para quem ama as próprias cicatrizes), uma nova amiga tão especial, o emprego dos sonhos, seguro, estável, agradável e levemente bem remunerado e praticamente caído do céu no meu colo, de tudo isso à tudo isso, vi meu ano passar longo, sem mais dias em stand by, tudo em movimento ininterrupto.
Muitos, mas muitos dias felizes, mais do que em qualquer outro ano, talvez mais do que em qualquer outra vida!
Passeios, viagens e ganhei um cachorrinho! E meu amor provando todos os dias o dele, cada dia mais parceiro, companheiro. Gestos acertados, espasmos de compreensão e nem lembro se algum arrependimento. E li a coleção Hp pelo menos 2x mais.
Carrego na minha pele os benefícios do ano, em 10Kg a mais sob a pele, neste mesmo dia, um ano atrás.
Que este ano que se inicia não decida tomar as compensações pelo que passou.
Nem espero que ele seja ainda melhor, pois não acredito que se deva possuir mais do que se precisa, nem tanto mais do que merece.
Só desejo que 2009 não venha reivindicar para si os excessos cometidos por 2008. Só não quero perder nada, continuar como estou. Nada a mais.
Isso é paz: não existir nada mais para desejar.
Obrigada, Pai, por tudo isso. A paz com que me presenteou para que eu soubesse do que se trata. E obrigada pelos longos anos de sofrimento, que me fazem valoriza-la.
Graças. É só um dia após o outro.
Em tempo, para ilustrar, nada melhor que uma foto da minha família. Só faltou o Akamaru.