domingo, 3 de outubro de 2010

Outros Outubros

Para não decepcionar ninguém e em reconhecimento dos que esperaram.

Depois de votar, sentei-me ainda pensando no futuro do país. A cabeça latejando de dor, a ponto de dar-me náuseas.Angustiada, desisti de ficar apenas deitada na cama branca da minha mãe e decidi subir e cuspir com as letras minha enxaqueca.

Eu, na verdade, não ia fazer nenhuma edição de outubro, pois sequer notei que outubro havia chegado. Eu estava lá ocupada com as trocas de servidores no trabalho, a viagem no meio disso tudo, a falta de grana, a remarcação das férias, os bebês da família, a falta de grana, o serviço novo do marido, o tempo ocioso do marido, a falta de grana...

Um dia, percebo que, à toa, estou com um nó não desfeito na garganta e em diversos músculos do corpo. Na sexta me arrumo e dirijo uns 50Km para despedir-me de um amigo querido por uns cinco minutos e, sem perceber, estou no carro de volta e as lágrimas vêm fortes aos olhos. Tão frustrada com tudo, apesar de tudo estar tão bem! Aí chego em casa e vejo o email da Clau me desejando um feliz outubro, me lembrando que é outubro. Muitas outras cobranças para os textos vêm. Eu nem ia escrever nada, não tendo percebido que o mês acabou. Pra mim isso só representa a entrada do meu salário na conta. Eu não queria mais estabelecer ligação entre esses eventos, mas não tem como evitar.

Mas não queria mais escrever sobre meus outubros, meus dias cinzentos do final de setembro, as chuvas em novembro. Todo ano meus textos são iguais, todo ano sofro em outubro. E me provoco ainda mais dor me afastando de todo mundo com a minha melancolia travestida em mau humor.

Os olhos enxarcados, mas sem tempo para soluçar. Sinto saudade dos dias que me encolhia gemendo, desejando ardentemente não amar ninguém, só a mim, só a mim. Nada disso resolve, só traz mais dor.

Eu não escrevo mais poemas, meus sentimentos não têm mais cor, eu apenas admito friamente que amo a despeito das ações que faço. Mesmo assim, as palavras atropelam minha língua e meus dedos. Mesmo assim, ainda tenho gente ansiosa pela postagem nesse blog bobo, me mandando emails, tentando me fazer sentir melhor apenas disso tudo.

Neste outubro, como nos outros, quero apenas ficar sozinha. Desamar! Desmagoar! Quero esconder-me para que ninguém me toque e omitir-me de tocar também. Mas cansei dessa gangorra, dessa montanha russa emocional. Cansei de ficar dengosa, te querendo perto e agressiva, alimentando raiva tentando te odiar, por ficar tão distante. Cansei!

Mas agora pareço tão distante da paz que nem mais sei se isso existe ou é possível. Deixo-me, declino-me, abandono-me, longamente me espero pra só retornar quando eu puder esperar por março.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Fim da Nova Viagem Comigo - 3ª edição

Levantei-me, enfim, para o banho decidindo severamente comprar-me uma “havaiana”. Desesperei-me com os 4 registros do chuveiro. Liguei o 1º, a água saiu fria. Fechei. Liguei o 2º. A água saiu gelada. Tornei ao 1º e esperei mais tempo dessa vez, até a água estar quente o bastante para tomar coragem de molhar-me inteira. Depois de um tempo a água estava agradavelmente quente, depois um pouco mais, quando os braços estavam dormentes e formigando consegui ajustar a temperatura e o banheiro já era todo uma sauna a vapor e eu, toda vermelha, achei que era o bastante e dei o banho por encerrado. Aprontei-me rápido e achei-me linda em minhas roupas de frio.

Comi pães, sanduíches frios, queijos, ovos mexidos, saladas de frutas com generosas colheradas de um creme branco parecido com chantili e por último, uma grossa fatia de pudim de leite com caramelo.

Tudo em Campos tem cara de Natal, até as luzinhas piscando. Jardineiras flori

das, cafonas, sob as janelas, cheiro de chocolate quente e canela. Venho elegante em meu casaco vermelho-cereja, ventilar minhas idéias na esperança de renovar aquilo que faço todo dia.


Reconheci velhos conhecidos jovens como eu, ouvi nomes de pessoas velhas trazendo temas novos e me envelheci, sem paciência com os aluninhos que perturbavam as palestras, provavelmente sem conseguir entendê-las. Depois envelheci ainda

mais, sem dar conta de passar a noite acordada, tomando vinho com algumas das pessoas mais ilustres presentes ali, “celebridades” de nosso pequeno mundinho acadêmico.

Pude fazer tudo o que mais gosto, embora exausta com tantas "aulas" e pululando de novas idéias pro trabalho, ainda pude experimentar truta ao molho de alcaparras, comer até não aguentar mais, acordar sem despertador, tomar banho bem quente demorado, apaixonar-me pelos lugares, pelas coisas, pelas pessoas, por mim. Pude transgredir e me sentir ótima depois, pude divulgar-me e ao meu trabalho, fazer planos e projetos com pessoas mais importantes que eu. Conhecer pessoas e a mim, por consequencia. Assumir-me tímida, em vez de fingir que não sou (porque tenho vergonha de ser tímida) e permitir-me envolver e expressar o amor que desenvolvi por essas pessoas. Só por isso já valia toda a viagem e o grande rombo orçamentário que adquiri por causa dela.

Volto para Brasília com raiva do calor seco e da fumaça, desejando passar o resto da vida em divagação intelectual, taças de vinho bom, piadas inteligentes, numa cidade deliciosa como Campos. Sinto-me ansiosa antes de embarcar no avião, e para despedir-me com muitos abraços sinceros e apertados nos amigos que tornaram a viagem ainda mais especial.

Mas volto e Brasília está quente, seca e esfumaçada. O ar que vem de lá provoca turbulências no avião e em mim. Desço já com outros pensamentos, ansiosa pelo seu amor, sua voz, seu toque, seu sexo. Tomo mais uma taça de vinho antes de dormir e acordo no outro dia com as fortes dores de cabeça, decorrentes do clima, da ressaca e, principalmente, da abstinência de tudo aquilo.