E, bem pra inaugurar meus escritos de Outubro, tenho um sonho desses. De novo, como naquele em que estávamos na antiga casa do meu avô, sei que você está lá, na sala de televisão dessa vez, mas não te vejo. Não vou lá me encontrar com você. Mas fico tentando limpar tudo, arrumar tudo, para que meu hóspede queira ficar, tenha uma boa impressão de mim, de nós. Fico andando como uma louca de um lado para o outro, assombrada pela presente ausência de um ou mais, que já se foram.
Pior é acordar ansiosa, com essa saudade e como estivesse prestes a matá-la, como se fosse vê-lo sair da cozinha com uma caneca de café e um sorriso.
Tanto tempo... E ainda não fui capaz de assimilar que você se foi para sempre, que me iludo em pensar que eu talvez possa ter mais uma, só mais uma de nossas conversas inteligentes, com todas as mudanças que eram capazes de operar em mim. Que não me deixou de herança sequer uma frase escrita para que eu pudesse me suportar. Nada para me dizer de novo e de novo o quanto admira minha paixão pela vida, só pra que eu não pense em morrer. Pra eu nunca mais tratar a morte com frivolidade, diante de sua dor e indignação. Pra que eu não tenha preconceitos ou faça distinções de gênero e sexo, só porque você percebe que eu o faço mesmo sem saber que havia outra forma de ver a vida.
O Alexandre fecha os olhos e tira o carro do telhado escorregadio por mim. E eu fico desejando que você volte, apareça me olhando por cima dos óculos, só para você ver que hoje sou tudo que você me ensinou ser e que, talvez, hoje eu mereça sua admiração como você mereceu a minha.