quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Edição de Outubro

Corre, corre, corre.

O vento balança as árvores verdes, fazendo surgir do céu uma cascata de folhas e flores amarelas, rosas, roxas, laranjas, brancas, vermelhas.


Você não adora Brasília na primavera?


As estações se atropelam, indecisas

Choveu, fez frio e os dias cinza fazendo as tardes parecerem madrugada por algumas semanas.

Ficou seco e frio,

Depois seco e quente,

Depois tão quente que choveu.

Ainda não sei se uma estação foi eleita até o fim dela

Ou se o calor poeirento de Samambaia será novamente substituído por dias frios e secos, ou secos e quentes ou se vai ficar tão quente que choverá no fim da tarde até a manhã do outro dia. Se novos dias cinza virão, ainda antes de chegar o verão.


E paro alguns segundos, enquanto me policio para não estressar com o transito, nem enterrar minha cabeça entre os ombros, paro para captar todo esse movimento. A dança da folhagem caindo lenta na ventania, indo longe, as paisagens de nuvens que só duram alguns minutos, imitando uma onda do mar lavando a praia, sob o sol. Estas cores, cheiros, sons de Brasília entrando em Outubro.

E, como se eu nem me lembrasse dele, ele chegou de mansinho pra me encontrar correndo e sem tempo de interromper a correria, para descansar num paraíso de palavras.


Corro, corro, corro.

Atropelando a mim mesma, no processo de chegar em mim.

Muitos esquemas de reforçamento, pra que eu seja capaz de discriminar.

Muita vida, pra que eu tenha tempo de escrever.


Só viver, só viver.

A vida não pára no ponto pra embarcar, vamos todos pendurados nas laterais, agarrando como for possível.

Corro, corro, meu corpo. Morro.

Tão cansada e ainda tanto a fazer.

A ponta dos dedos escorregando do pára-lama.

Corro, corro, canso!

Pra, tão satisfeita comigo, fechar-me para assistir ao espetáculo da dança das palavras por trás das pálpebras, mas sem tempo para dar à luz os textos, as músicas, a arte.

Ficam só pra mim, egoísta.

Me desvendando, explorando, descobrindo. E me conheço melhor, seduzida por elas, dançando no ritmo delas, criando e executando em tempo real, concomitantemente.

Gosto de mim assim. Gosto do que fiz de mim.

E vivo, de novo, intensamente cada segundo.

Aprendendo e reaprendendo a amar, a me amar, a desfrutar da existência

De tudo


Sorrio, marota, pra esse Outubro ainda tão jovem. Nem sei se pronta pra ele, mas sem dúvida pronta pra olhar para trás, rindo, quando ele passar. Se um bom Outubro, só mais alguns dos bons dias em que colho do que planto. E, se for dor, para vê-la depois ao longe, como um pedaço, um detalhe, uma pincelada, da obra de arte que fiz do que foi feito de mim.

5 comentários:

Claudia Bittencourt disse...

Lindo texto. =)
Eu não gosto do final do ano, mas cada ano que passa, é uma chance de fazer com que isso se reverta.

Primavera em Brasília é linda.
Feliz Outubro! :)


Beijos, flor bela ^^

Hayet disse...

Que este seja melhor que os últimos...

Valeu!

Beijos

Arcanis disse...

Não tem mais para Outubro não?

Arcanis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hayet disse...

Tem mais, sim, meu Amor. Sempre tem. Só que neste Outubro, como você bem sabe, estou tão ausente de mim que não sei se vai sobrar nada que valha a pena sair dos papéis de rascunho...