Levantei-me, enfim, para o banho decidindo severamente comprar-me uma “havaiana”. Desesperei-me com os 4 registros do chuveiro. Liguei o 1º, a água saiu fria. Fechei. Liguei o 2º. A água saiu gelada. Tornei ao 1º e esperei mais tempo dessa vez, até a água estar quente o bastante para tomar coragem de molhar-me inteira. Depois de um tempo a água estava agradavelmente quente, depois um pouco mais, quando os braços estavam dormentes e formigando consegui ajustar a temperatura e o banheiro já era todo uma sauna a vapor e eu, toda vermelha, achei que era o bastante e dei o banho por encerrado. Aprontei-me rápido e achei-me linda em minhas roupas de frio.
Comi pães, sanduíches frios, queijos, ovos mexidos, saladas de frutas com generosas colheradas de um creme branco parecido com chantili e por último, uma grossa fatia de pudim de leite com caramelo.
Tudo em Campos tem cara de Natal, até as luzinhas piscando. Jardineiras flori
das, cafonas, sob as janelas, cheiro de chocolate quente e canela. Venho elegante em meu casaco vermelho-cereja, ventilar minhas idéias na esperança de renovar aquilo que faço todo dia.
Reconheci velhos conhecidos jovens como eu, ouvi nomes de pessoas velhas trazendo temas novos e me envelheci, sem paciência com os aluninhos que perturbavam as palestras, provavelmente sem conseguir entendê-las. Depois envelheci ainda
mais, sem dar conta de passar a noite acordada, tomando vinho com algumas das pessoas mais ilustres presentes ali, “celebridades” de nosso pequeno mundinho acadêmico.
Pude fazer tudo o que mais gosto, embora exausta com tantas "aulas" e pululando de novas idéias pro trabalho, ainda pude experimentar truta ao molho de alcaparras, comer até não aguentar mais, acordar sem despertador, tomar banho bem quente demorado, apaixonar-me pelos lugares, pelas coisas, pelas pessoas, por mim. Pude transgredir e me sentir ótima depois, pude divulgar-me e ao meu trabalho, fazer planos e projetos com pessoas mais importantes que eu. Conhecer pessoas e a mim, por consequencia. Assumir-me tímida, em vez de fingir que não sou (porque tenho vergonha de ser tímida) e permitir-me envolver e expressar o amor que desenvolvi por essas pessoas. Só por isso já valia toda a viagem e o grande rombo orçamentário que adquiri por causa dela.
Volto para Brasília com raiva do calor seco e da fumaça, desejando passar o resto da vida em divagação intelectual, taças de vinho bom, piadas inteligentes, numa cidade deliciosa como Campos. Sinto-me ansiosa antes de embarcar no avião, e para despedir-me com muitos abraços sinceros e apertados nos amigos que tornaram a viagem ainda mais especial.
Mas volto e Brasília está quente, seca e esfumaçada. O ar que vem de lá provoca turbulências no avião e em mim. Desço já com outros pensamentos, ansiosa pelo seu amor, sua voz, seu toque, seu sexo. Tomo mais uma taça de vinho antes de dormir e acordo no outro dia com as fortes dores de cabeça, decorrentes do clima, da ressaca e, principalmente, da abstinência de tudo aquilo.
2 comentários:
Tem coisas que são legais porque não são cotidianas. Talvez você tivesse enjoado se ficasse mais dois dias em Campos.
Ao mesmo tempo, sempre temos vontade de sair da rotina...
Como somos contraditórios.
Beijos
Nááááá.... Eu aguentava bem uns dois dias a mais, ou três.... Ou mais...
Eu não consigo estabelecer uma rotina. A cidade é tão pequena que, talvez, lá eu adquirisse alguma. Ou cansasse, depois de ver tudo o que tinha pra ser visto.
Mantém-se a contradição.
Beijos!
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