sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Faxina de Ano Novo

Não sei por que, mas no final do ano, sempre acabo correndo para fazer um monte de coisas que faltam para que o ano se dê por terminado. Até parece que ele vai acabar e eu vou ficar pra trás, no ano passado. Ou então que o ano vai acabar quando eu terminar meus afazeres. No final é só um dia atrás do outro, mas eu vou para o próximo dia sem pendências do anterior.

Assim, resolvo arrumar todas as gavetas e separar as roupas que não uso mais. No fim, não sei o que fazer com mais de uma dúzia de meias-calça e percebo a inutilidade de uma gaveta cheia de lingeries “especiais” – eu sou muito mais bonita do que elas... hehehe

Tenho mais camisolas do que calças e muito mais roupa do que tenho espaço para guardar... Isso é bom, eu acho... Por via das dúvidas, junto sacolas bem grandes para levar embora as roupas desprezadas.

No último dia, enfim, consigo colocar tudo em ordem, faltando apenas umas louças sujas na pia e arrumar espaço onde colocar materiais de estudo para aulas que nem leciono mais.

Faço uma máscara facial e hidrato os cabelos. Escolho as roupas para usar à noite.

O Alexandre chega mais cedo do trabalho, animadíssimo com uma garrafa de Courmayeur, cheio de planos e mil propostas de festas.

No fim, só queremos ficar com as pessoas com quem estivemos todos os outros dias corriqueiros do ano que se passou. Nem foi lentamente, nem foi rápido demais. Demorou mais ou menos um ano. Ainda assim, ficamos ansiosos para que o ano acabe, confiantes de que o próximo será melhor, sem no entanto ter muita certeza de que fizemos algo para que o próximo ano seja de fato melhor.

No fundo, acho que nem sabemos bem o que esperamos.

Esse ano não quero trabalhar mais, nem melhor. Quero que o salário aumente. As folgas também. Não tenho planos de concluir os muitos cursos que deixei pela metade. Parece que quero andar pra trás ou pros lados...

Quero meu laboratório fotográfico pronto e tempo para usá-lo. Dias bonitos e ocasiões para tirar fotos. Mais aulas de dança e menos de psicologia. Mais poesias e menos crônicas. Quero reler mais dos livros que li na infância e não tenho nenhum plano de ler Skinner.

Quero gastar menos, para poder gastar mais nas minhas preciosas férias em maio.

Quero que os bebês nasçam logo pra eu vê-los abrindo os olhinhos, engatinhando, falando.

Esse ano não tenho planos, tenho colheitas. De frutos que virão independentes de mim.

Esse ano não quero realizar, quero usufruir.

Estou cada dia mais descansada e desejando descansar... Eu bem pensei que queria ser menos bobalhona, mas ainda não consigo ver o que teria de bom nisso.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Despertando

Abro os olhos numa sexta-feira, cheia de afazeres não feitos no trabalho. O dia promete ser bem atribulado. Ainda assim, abro os olhos devagar, ciente de que o despertador ainda não tocou. Faço tudo devagar, levanto-me devagar, seduzo devagar, convenço devagar, amo devagar, e vou me arrastando para um banho que já devia ser apressado. Canto em voz alta sob a água, certa de que o som me sai doce e agradável. Saio andando molhada, observando minhas curvas e minha pele ainda levemente dourada.

Hoje encontrei duas gavetas de roupas minhas que eu nem lembrava que existiam, como um tesouro perdido despencando do céu no meu colo. Hoje uso preto, uma blusa que eu nem sabia que tinha. Acrescento um cinto fino, sem necessidade, e um bracelete de couro, com detalhes semelhantes. Faltam vinte minutos para entrar no trabalho e ainda não penteei os cabelos. Enfio os pés numa sapatilha de pano, parceira fiel nas badaladas noites de dança de salão. Ajeito os cabelos, fazendo seu novo cumprimento emoldurar-me o rosto e pego uma pontinha de pomada para garantir que ficarão assim e para estilizar o arrepiado atrás, que uso desde sabe-se-lá-quando. 9 minutos depois estou em frente ao elevador, o gosto doce de um copo de iogurte ainda nos lábios. Desço os vinte andares passando protetor solar no rosto, mirando o meu reflexo no vidro negro das paredes.

Hoje amanheceu um dia quente, com cheiro de domingo. Ouço Dave Matthews e Oasis no caminho. Dirijo leve, como seu eu soubesse o que estou fazendo.

Fazem mais de dois meses que, por conta própria, interrompi o uso dos antidepressivos. Isto mesmo, no plural. Passados os dias de sono insuportável, de insegurança e oscilação, de morosidade e melancolia, de compulsões incontidas, finalmente, movimento-me com a leveza de quem dormiu o suficiente, sem pesadelos, achando-me bonita, achando tudo belo. Acordo nesse calor de dezembro, anunciando o início do verão e a poesia está lá, me encarando com um sorriso misterioso e travesso. Atravesso as avenidas e a arte está lá, me contemplando como se eu fosse uma galeria com uma nova exposição. A irreparável consciência da finitude de volta à disposição para realizar, para viver. A plenitude voltando a existir para mim, sem nunca ter abandonado os meus dias, de fato. As estáticas paisagens cinzentas de repente movimentam-se em frenesi, cheias de cores vivas.

Quando me gosto, ouço rock, visto-me de punk, abandono os saltos altos.

E, como se só agora soubesse, penso em todas as coisas boas, as pessoas que cruzaram nestes dias pisando minhas raízes.


Desperto mais uma vez, torcendo para ficar maníaca nestes dias, para comemorar as festas com minha família, gastar tudo o que não tenho em presentes às pessoas que amo, ansiosa por ver o quanto Aninha cresceu, o Bê liderando a gang, o Arthur aprontando todas, como se nada mais importasse, o Rafa deixando rapidamente a infância para se tornar um rapazinho esperto...

Aí quero fazer festinhas para os muitos bebês que estão para chegar...

Divertir minhas amigas que estão para casar...

Kilda tinha razão: Como eu sou boba! Tudo isso já estava aí!

É como se eu estivesse sob as águas do tororomba, não com a leveza gelada que elas têm, mas imersa naquela escuridão intransponível e, simples como acordar de manhã, romper a superfície com o ar cálido invadindo meus pulmões exauridos.


Fim da Nova Viagem Comigo - 4ª edição






Sento com minha mãe às margens do mar na praia de batuba, sabendo num relance que ela não vai suportar ficar ali, parada. Sorrio para

mim e ela quer saber porque, mas eu não sei colocar em palavras.

Gosto disso, de visitar um lugar e ficar agindo por

aqueles poucos dias

como se eu morasse ali. Como se descer a rua para tomar uma piña colada numa espreguiçadeira fosse parte da minha rotina diária, fizesse parte da lista dos meus afazeres cotidianos tanto quanto despertar, escovar os dentes, ir para o trabalho.


Passamos os dias subindo aquelas ladeiras sem nenhuma vez fazer num dia o mesmo que foi feito em outro. Comemos peixe e frutos do mar até a sua simples menção fazer enjoar o estômago. Conhecemos pessoas novas, lugares – paradisíacos! - novos. Na quinta-feira seguinte nos deleitamos com costelinha de porco, na terça anterior, Coré. Um dia ou outro pasta com

camarões e salmão. Um dia passamos no Tororomba, comemos bolinhos absurdamente gordurosos, visitamos o cemitério do local, enchendo as cabeças com histórias para serem contadas, bebemos água das fontes ferruginosas do local. Uns dias sequer almoçamos propriamente, andando em Ilhéus beliscando kibes, sorvetes e pudim de leite.

Triste tirar férias sem estar propriamente cansada, mas sempre boa a sensação de conhecer o novo, reconhecer o velho, aventurar-me a rir até a barriga doer, arriscar-me conhecer pessoas para me despedir depois com um abraço temeroso.


Volto para Brasília com aquele sensação que dá quando seu sobrinho te chama pra brincar, mas você está ocupado. Ansiosa para terminar meus afazeres e descobrir que novas aventuras a imaginação dele pretende te levar, o mais rápido possível. Mas retorno de novo, só pra ter logo a sensação de dever cumprido que me trará o início do meu próximo descanso.


04-11-2010 – Saindo de Casa, Voltando pra Casa



Volto para minha casa, no lugar onde me escondo. Parece até ligeiramente irreal, parece uma lembrança, às vezes espero acordar, como se sonhasse, depois de ter sonhado tantas vezes com este lugar, tentando trazer minha mãe comigo. Nos sonhos, os lugares eram diferentes do que realmente são e as situações eram uma mais sem sentido que a outra e nunca conseguíamos chegar, para eu mostrar à minha mãe, irmã, amor, irmão, cunhada, pai, os deslumbramentos que este lugar me provoca. Agora chego aqui e tudo é simples e natural, como se eu sequer houvesse antes partido. Como se o tempo que passei no meu apartamento no 20º andar, as idas e vindas à casa de minha mãe, os longos trajetos até o trabalho, umas duas ou três cidades ao sul de bsb, tudo, fosse não mais que um breve pesadelo do qual acordo esvanecendo em fiapos as lembranças e, ao saltar da cama nem lembro que sonhei.

Sento no meu ansiado silêncio, para assimilar tudo isso, pra poetizar piegas sobre minha felicidade, pra me sentir plena e bem sucedida, para criar e ter mais sonhos a tornar concretos. Mais um suspiro e desprezo a desnecessidade de registrar tudo aqui, só viver, só viver e, quem sabe emendar nestes pensamentos mais um breve cochilo.

uma das únicas fotos minhas sem o chapéu na cabeça...

Fractais - O Preço do Apreço



Um dia decidi não desmarcar mais compromissos. E, ao mesmo tempo, decidi comprometer-me comigo e comigo apenas.

Aí, a paixão pela música e pelas descobertas venceram o constrangimento de sair sozinha. Parei de comprar quilos de queijo e litros de vinho para as festas na minha casa. E passei a ir aos pubs, mesmo quando todo mundo furava.

Meus amigos se tornaram pessoas mais leves e variadas – e a levar petiscos e bebidas às festas – e eu tomei gosto tal por sair sozinha que parei de convidar as pessoas. Assim, comecei a conhecer pessoas novas, com preferências semelhantes às minhas, que vieram a preencher as festas na minha casa.

Perdi muito da minha timidez natural, passei a conversar com interessantes estranhos. Comecei a gostar tanto disso, que passei a viajar sozinha nas férias e ter novas pessoas de quem sentir saudade, nos intervalos dos meus atendimentos.

Descobri que gostava da minha voz e da minha companhia!

Passei a estar de passagem sem carregar comigo nenhuma mala ou mobília.

Eu nunca mais fui só. Até os lugares passaram a ser parte de mim, como amigos queridos.

Hoje eu conheço um novo pub, com novos nomes pras mesmas bebidas, com pessoas com roupas bonitas, cuidadosamente escolhidas, uma nova mesinha isolada, pra me sentar só e ouvir bandas novas, tocando velhas músicas...