Calo-me nesse sem-saber, oposto de sereno. Não o posso nomear. Não sei, não há o que dizer. Selam-me os lábios, as lágrimas.
Não, já não choro.
Nem sei de onde vem, súbito, euforia por bardear.
Queria tanto lhe dizer!!!
Ah! Não me faltam as lágrimas, e as derramo com um sorriso. Caminho com lampiões acesos de sua luz verde. Fitando tranquila a claridade ao fim deste túnel.
Nenhum problema é grande demais.
Nenhuma tristeza é fluida o bastante.
Nenhum silêncio grita em tão alto volume
Para que me cubra, afogue, sufoque
Para que eu me esqueça do motivo que tenho pra sorrir todos os dias.
E, para cada um, tenho uma ocupação agradável, que espero ansiosa.
Ah! Você me faz tão feliz. Tanto que não há adversidade que abale minha força, minha coragem.
Sou vida! Sou a própria vida! Quando você me deseja e me faz gostar do que sou.
Tenho assim, enfim, prazer na vida. Só por causa dessa paixão louca que você, descuidadamente, plantou em mim. E que cultivo plena de floresceres.
Ah! É sua voz que ouço à noite, quando todos dormem.
É com você que sonho, quando desperto asfixiada e repleta dessa saudade.
Ah! É você que faz meu corpo responder assim, delírios, espasmos, e muito sem-saber.
Ah! É só você e você apenas. Que nada nunca me fez, faz sentir assim.
Te amo o bastante, pra parecer menina. Pra congelar por dentro quando sinto dolorosamente sua falta.
Me ensina a ver. A me ver.
Fale comigo, que não saber é um suplício.
Você é, e sabe, meu ponto de equilíbrio. Meu ser do fogo e das águas, minha água ardente.
Incendeie-me, enche minha aura com teu calor. E me seduz no reflexo cristalino do seu mover, que contemplo, estático, em seus olhos.
Idas e vindas de palavras ocas, ecoando. Do pouco que me lembro, do que não consigo esquecer.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Quando Não Falam as Lágrimas
paz, para quem procura, algumas dicas
Com o eterno agradecimento ao Daniel Röhe, que desfiou, entendendo tão bem, minha paz. Esse poema é dele, aqui eternizado, nem sei se ele sabe. Alguém um dia me disse que não existe ex-amigo. Esse alguém, no entanto, já não sei o que é. Fica só o fato de chamar o Daniel de Daniel e não de Black, pra não ter que dar a ele um título.
paz está na meia furada
está na calçada e sacada
paz está no morro, no corvo
assim como no diabo ou no escravo
paz está no trânsito de são paulo e na torre eiffel
no sorvete de flocos e no cão vira-lata
no pombo morto, no pombo que caga ácido
paz está no aborto e na salvia divinorum
paz está no celular e no telefone fixo
na internet, no fax, no cd novo
está em tom jobim e ray charles
na smirnoff e na jose cuervo, no grama do ouro
paz está na cama, na janela e em saturno
está no fundo de tela e no coturno
na bandeira que balança, na chama que queima o papel
na esperança que se lança, no diploma de bacharel
paz está no menu iniciar, no acordar
no dormir no fugir
no atropelar a moto, no cair de um avião
na guerra santa e na inflação
está ainda, no copo de cerveja em uma sexta feira
está no cigarro de palha, sagrado
está no perfil do orkut, no show do pink floyd
no freio abs, que salva mais uma vida
está no airbag que sufoca o homem salvo pelo anjo
está no rádio do carro roubado
vendido e retraficado, reciclado
rebolado, re-embolado
paz está no final do corredor, à direita
paz está na descarga que funciona
paz está aqui
paz está acolá.
Algo Além da Paz
Tornou-se-me usual fechar-me às paixões. Não escolho, não decido, não permito-me amar. Percebo-o como perigo, e fujo, corajosamente, bravamente fujo e me escondo para trancar-me num túnel escuro sem luz no seu fim.
Encolho-me no frio, na imobilidade, na ausência de imagens e permaneço intocada. Ali me encontro em mim, ecoando minhas cantilenas monótonas no silêncio.
Minha respiração pausada parece uma ventania e o bater gélido dos dentes é não mais que uma agradável percussão.
Sem odores, sem rubores, apenas e irremediavelmente só.
Não. Isso não é paz.
Dessa forma, rompe-se minha bolha que me garante intocável.
Sou, inesperadamente, inundada de luz, que me cega, de calor, que me faz soluçar. Numa onda de sons, de movimento, torna-se o fôlego um arfar, secam-se-me os olhos e tudo o mais. Tamanho o êxtase que me engolfa, que não há voz que me perpasse a garganta. Incontido o prazer imacersível das texturas, desmedido tragar dos perfumes. Rompe-se-me a armadura e estou, repentinamente, exposta, entregue e desprotegida.
É essa completa vulnerabilidade que procuro e faz-me estar em lugar que excede a morosidade. Ter, não, sentir algo que vá além da paz.
Nem coisa nem outra.
Opto, em concordância com sua insistente o-posição, pela paz. Na minha própria concepção de paz: tomar sol na varanda, com um vento morno soprando sem, no entanto desarrumar meus cabelos, com os ruídos ocasionais do canto dos pássaros e, certo, o cheiro de café pela manhã, de comida bem temperada no meio do dia e de chá inglês ao escurecer.
Ligar o som no lusco-fusco. Dançar um pouco antes do banho do fim da tarde. Ler um livro, fazer um desenho. Ter um telefonema pela manhã e um beijo antes de dormir. Viver o agora, sempre (sim, aquele).
Isto é paz, antes intragável, incompreensível, inaceitável, agora muito bem-vinda. Qualquer coisa é melhor que te esperar. Qualquer coisa é melhor que angústia dos extremos. Não quero correr o risco de ter você e algo além da paz. Nada pior do que o que você faz.
Eu o desejava, agora arrependo-me de desejar.
Arrependo-me de cada segundo que estive apaixonada por você. Envergonho-me de cada mero instante que gastei amando você. Quero te parisionar no passado. Quero esquecer que já senti algo além da paz e a paz, agora, me estaria de contento.
Abro mão de tudo o mais pra te abandonar.
Encontro paz. Engulo paz.
Aceito, tediosamente, como última opção, esta paz.
Melhor que ter, no meio desse turbilhão de emoções, ainda tantas páginas em branco.