Tornou-se-me usual fechar-me às paixões. Não escolho, não decido, não permito-me amar. Percebo-o como perigo, e fujo, corajosamente, bravamente fujo e me escondo para trancar-me num túnel escuro sem luz no seu fim.
Encolho-me no frio, na imobilidade, na ausência de imagens e permaneço intocada. Ali me encontro em mim, ecoando minhas cantilenas monótonas no silêncio.
Minha respiração pausada parece uma ventania e o bater gélido dos dentes é não mais que uma agradável percussão.
Sem odores, sem rubores, apenas e irremediavelmente só.
Não. Isso não é paz.
Dessa forma, rompe-se minha bolha que me garante intocável.
Sou, inesperadamente, inundada de luz, que me cega, de calor, que me faz soluçar. Numa onda de sons, de movimento, torna-se o fôlego um arfar, secam-se-me os olhos e tudo o mais. Tamanho o êxtase que me engolfa, que não há voz que me perpasse a garganta. Incontido o prazer imacersível das texturas, desmedido tragar dos perfumes. Rompe-se-me a armadura e estou, repentinamente, exposta, entregue e desprotegida.
É essa completa vulnerabilidade que procuro e faz-me estar em lugar que excede a morosidade. Ter, não, sentir algo que vá além da paz.
Nem coisa nem outra.
Opto, em concordância com sua insistente o-posição, pela paz. Na minha própria concepção de paz: tomar sol na varanda, com um vento morno soprando sem, no entanto desarrumar meus cabelos, com os ruídos ocasionais do canto dos pássaros e, certo, o cheiro de café pela manhã, de comida bem temperada no meio do dia e de chá inglês ao escurecer.
Ligar o som no lusco-fusco. Dançar um pouco antes do banho do fim da tarde. Ler um livro, fazer um desenho. Ter um telefonema pela manhã e um beijo antes de dormir. Viver o agora, sempre (sim, aquele).
Isto é paz, antes intragável, incompreensível, inaceitável, agora muito bem-vinda. Qualquer coisa é melhor que te esperar. Qualquer coisa é melhor que angústia dos extremos. Não quero correr o risco de ter você e algo além da paz. Nada pior do que o que você faz.
Eu o desejava, agora arrependo-me de desejar.
Arrependo-me de cada segundo que estive apaixonada por você. Envergonho-me de cada mero instante que gastei amando você. Quero te parisionar no passado. Quero esquecer que já senti algo além da paz e a paz, agora, me estaria de contento.
Abro mão de tudo o mais pra te abandonar.
Encontro paz. Engulo paz.
Aceito, tediosamente, como última opção, esta paz.
Melhor que ter, no meio desse turbilhão de emoções, ainda tantas páginas em branco.
Idas e vindas de palavras ocas, ecoando. Do pouco que me lembro, do que não consigo esquecer.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Algo Além da Paz
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Um comentário:
Adorei seus comments. Me mostraram uma solução ainda não percebida. e a paz? Ah...a paz. Silêncio nunca é o bastante para tê-la. Paz não é sair do meio da confusão somente. Acho que está mais para a sensação confortável de se estar em casa...entende?
Bjo, sis.
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