terça-feira, 14 de agosto de 2007

Algo Além da Paz

Tornou-se-me usual fechar-me às paixões. Não escolho, não decido, não permito-me amar. Percebo-o como perigo, e fujo, corajosamente, bravamente fujo e me escondo para trancar-me num túnel escuro sem luz no seu fim.
Encolho-me no frio, na imobilidade, na ausência de imagens e permaneço intocada. Ali me encontro em mim, ecoando minhas cantilenas monótonas no silêncio.
Minha respiração pausada parece uma ventania e o bater gélido dos dentes é não mais que uma agradável percussão.
Sem odores, sem rubores, apenas e irremediavelmente só.
Não. Isso não é paz.
Dessa forma, rompe-se minha bolha que me garante intocável.
Sou, inesperadamente, inundada de luz, que me cega, de calor, que me faz soluçar. Numa onda de sons, de movimento, torna-se o fôlego um arfar, secam-se-me os olhos e tudo o mais. Tamanho o êxtase que me engolfa, que não há voz que me perpasse a garganta. Incontido o prazer imacersível das texturas, desmedido tragar dos perfumes. Rompe-se-me a armadura e estou, repentinamente, exposta, entregue e desprotegida.
É essa completa vulnerabilidade que procuro e faz-me estar em lugar que excede a morosidade. Ter, não, sentir algo que vá além da paz.
Nem coisa nem outra.
Opto, em concordância com sua insistente o-posição, pela paz. Na minha própria concepção de paz: tomar sol na varanda, com um vento morno soprando sem, no entanto desarrumar meus cabelos, com os ruídos ocasionais do canto dos pássaros e, certo, o cheiro de café pela manhã, de comida bem temperada no meio do dia e de chá inglês ao escurecer.
Ligar o som no lusco-fusco. Dançar um pouco antes do banho do fim da tarde. Ler um livro, fazer um desenho. Ter um telefonema pela manhã e um beijo antes de dormir. Viver o agora, sempre (sim, aquele).
Isto é paz, antes intragável, incompreensível, inaceitável, agora muito bem-vinda. Qualquer coisa é melhor que te esperar. Qualquer coisa é melhor que angústia dos extremos. Não quero correr o risco de ter você e algo além da paz. Nada pior do que o que você faz.
Eu o desejava, agora arrependo-me de desejar.
Arrependo-me de cada segundo que estive apaixonada por você. Envergonho-me de cada mero instante que gastei amando você. Quero te parisionar no passado. Quero esquecer que já senti algo além da paz e a paz, agora, me estaria de contento.
Abro mão de tudo o mais pra te abandonar.
Encontro paz. Engulo paz.
Aceito, tediosamente, como última opção, esta paz.
Melhor que ter, no meio desse turbilhão de emoções, ainda tantas páginas em branco.

Um comentário:

Lê Cami disse...

Adorei seus comments. Me mostraram uma solução ainda não percebida. e a paz? Ah...a paz. Silêncio nunca é o bastante para tê-la. Paz não é sair do meio da confusão somente. Acho que está mais para a sensação confortável de se estar em casa...entende?
Bjo, sis.