sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sobre o medo de elefantes

Porque não sonho, sou.
Vejo essa sombra se aproximar de mim, estendendo suas garras pra me envolver e me prender na escuridão. Lembro que já comentaram a vontade que tenho de viver. Quero viver intensamente, quero sim! Nem que seja essa tristeza. Quero.
Viver intensamente minha tristeza.

Descobri que tenho medo de elefantes.É uma sensação estranha, a de estar diante do medo, mas me coloco nesta posição. Gosto de enfrentar-me, degustar, sentir o cheiro dos meus maiores temores.Em Bh perdi meus medos. E ganhei um que nunca tive, o da morte. Agora que Bh passou, me confronto com meus medos passados todos de volta. Tenho medo de viver, e volto a amar, admirar, desejar a morte.
Será? Não. Anseio pela vida, só estou soterrada em tanta morte, em tanto medo, tantas perdas!Tanto tanto que às vezes duvido se quero mesmo viver. Pra quê? Pra sofrer e ver o sofrimento dos outros sem poder fazer nada, absolutamente.É como se agachasse no frio, no fundo de um poço úmido, esperando a hora certa pra sair, quando o perigo tiver passado, mas não sei se esse perigo é real ou se é sonho.Quebra tudo: porque sonho, sou.

Vou encarar tudo isso como luto. Normal, passe para a próxima.Parece que as coisas pra mim são mais difíceis que para as outras pessoas. Todo mundo aqui tem o rosto seco e não parecem estar fazendo força para mantê-los assim. Suas vozes não saem esmagadas, as gargantas não estão apertadas e eles não olham para cima, respirando fundo para se manterem assim. Nem a boca está cheia d’água pela náusea que luto para conter. Nem as pálpebras estão semicerradas, como se o acordar fosse um enorme sacrifício. Nem o sorriso parece ser forçado, como um espasmo. Nasce fraco e morre de repente. Não tenho vontade de falar, mas queria ter pra quem.Ah! AQE! Sinto falta de ter alguém que se interesse pelo seu conteúdo, que dou tanta importância. “Se tivesse pra quem falar, não escrevia”.

11:22 - Olho o relógio. Não vejo a hora de ir embora. Não agüento mais estar aqui exposta a essas pessoas. Me sinto nua, porque não uso máscaras. E nua me deparo comigo mesma, sinto-me inegavelmente eu. E não gosto do que vejo e sinto que todos podem descobrir-me. Queria ser invisível, meu sonho de atuar é o paradoxo inevitável. Sinto que todos também não gostam de ver-me (cacofonia? Barbarismo?). Então essa máscara de enfado me ajuda a esconder e pareço apenas uma agradável pessoa triste, ou entediada, de todo modo inalcançável, intocada. Ou simplesmente indiferente a tudo, em lugar de pseudo-existente. Apenas vivendo um pseudo-mundo à parte. Uma outra realidade... Por que sonho, não sou. Mourning...Matei meu bebê estrangulado com o cordão da chupeta. Agora tenho que me fixar nas coisas boas, nos momentos lindos de sua curta existência e não pensar na sua não-existência, na perda...Fuga? Porquê não? Fujo sim!Entrar em contato com os aspectos ansiogênicos, com a dor, me deixa insensível a ela. Quero emoções, ainda que seja sofrimento, esquivar-me? Nunca. É passar pela vida sem viver. Quero meu amigo de volta. Quero meu bebê de volta. Nunca tinha entendido aquele sonho, nem agora. É a sensação...

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