Não sei por que, mas no final do ano, sempre acabo correndo para fazer um monte de coisas que faltam para que o ano se dê por terminado. Até parece que ele vai acabar e eu vou ficar pra trás, no ano passado. Ou então que o ano vai acabar quando eu terminar meus afazeres. No final é só um dia atrás do outro, mas eu vou para o próximo dia sem pendências do anterior.
Assim, resolvo arrumar todas as gavetas e separar as roupas que não uso mais. No fim, não sei o que fazer com mais de uma dúzia de meias-calça e percebo a inutilidade de uma gaveta cheia de lingeries “especiais” – eu sou muito mais bonita do que elas... hehehe
Tenho mais camisolas do que calças e muito mais roupa do que tenho espaço para guardar... Isso é bom, eu acho... Por via das dúvidas, junto sacolas bem grandes para levar embora as roupas desprezadas.
No último dia, enfim, consigo colocar tudo em ordem, faltando apenas umas louças sujas na pia e arrumar espaço onde colocar materiais de estudo para aulas que nem leciono mais.
Faço uma máscara facial e hidrato os cabelos. Escolho as roupas para usar à noite.
O Alexandre chega mais cedo do trabalho, animadíssimo com uma garrafa de Courmayeur, cheio de planos e mil propostas de festas.
No fim, só queremos ficar com as pessoas com quem estivemos todos os outros dias corriqueiros do ano que se passou. Nem foi lentamente, nem foi rápido demais. Demorou mais ou menos um ano. Ainda assim, ficamos ansiosos para que o ano acabe, confiantes de que o próximo será melhor, sem no entanto ter muita certeza de que fizemos algo para que o próximo ano seja de fato melhor.
No fundo, acho que nem sabemos bem o que esperamos.
Esse ano não quero trabalhar mais, nem melhor. Quero que o salário aumente. As folgas também. Não tenho planos de concluir os muitos cursos que deixei pela metade. Parece que quero andar pra trás ou pros lados...
Quero meu laboratório fotográfico pronto e tempo para usá-lo. Dias bonitos e ocasiões para tirar fotos. Mais aulas de dança e menos de psicologia. Mais poesias e menos crônicas. Quero reler mais dos livros que li na infância e não tenho nenhum plano de ler Skinner.
Quero gastar menos, para poder gastar mais nas minhas preciosas férias em maio.
Quero que os bebês nasçam logo pra eu vê-los abrindo os olhinhos, engatinhando, falando.
Esse ano não tenho planos, tenho colheitas. De frutos que virão independentes de mim.
Esse ano não quero realizar, quero usufruir.
Estou cada dia mais descansada e desejando descansar... Eu bem pensei que queria ser menos bobalhona, mas ainda não consigo ver o que teria de bom nisso.