Impressionante como o tempo passa devagar quando não temos pressa. Mas, embora cada dia parecesse semanas na minha viagem solitária, rápido demais ela chegou ao fim e voltei a ter pressa e horários e discutir opiniões antes de decidir ir a qualquer lugar. Também não pude mais fazer o que quisesse e não fazer o que não quisesse. A vida real chamava insistente aos ouvidos, embora eu fingisse dar-lhe as boas vindas com sauda
de como se estivesse ansiosa pelo seu retorno, mas amargurava-me intimamente como se devesse me despedir de um amigo companheiro. Na verdade, como se me despedisse de mim e do tempo ótimo que passei comigo.
Olhei triste para meu quarto de hotel, meu abrigo aconchegante para o período de reclusão, tentando reter cada detalhe dele na memória, mas sabe
ndo já que as lembranças se esvairiam de mim como água entre os dedos, como sempre. Lenta e melancolicamente fechei a porta com a mesma s
ensação de quando preciso desligar o computador, deixando uma conversa agradável no gtalk pelas metades, ou quando preciso desligar o telefone, numa de minhas ligações interurbanas, ou quando não poucas vezes assisti fecharem com barro uma sepultura, fechei a porta, desejando fechar-me nela ainda, mas a mão veio automátic
a ao trinco, girando a chave.
Volto pra casa, pra vida real, como se minha realidade tivesse morrido. E, como todo processo de luto, demoro não mais que uma semana pra que minha vida voltasse ao normal, mas é claro, sem nunca voltar a ser a mesma.
Na foto, um trecho do caminho de volta.