segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viagem Comigo II


Então, cheguei, muito antes do esperado, à pousada absolutamente encantadora onde iria me hospedar.

Depois de trocar meia dúzia de palavras com o japonês da recepção e não entender nem metade do que foi dito, recebi a chave do quarto 09 e o japonês me despediu bom um boa noite sorridente, indicando de forma semi-compreensível o caminho e me deixando só e perdida e tive que subir 2 lances de escada arrastando minha mala absurdamente pesada. Provavelmente se houvesse mais um lance de escadas eu teria me arrependido de ter trazido comigo o computador, o DVD e um trilhão de textos para serem lidos em minha reclusão pró-dissertação. Mas com os dois lances me arrependi só dos textos...

Mas cheguei no quarto agradavelmente perfumado e me encantei com a infinitude de possibilidades que se abririam para mim, em minha solidão. Acertei cada chave na primeira tentativa, como se estivesse retornando para casa e já soubesse as chaves certas.

Despejei a bolsa e a pasta sobre uma mesinha de estudos a um canto, a mala pesada já esquecida no corredor e voltei para as chaves na maçaneta da porta e destranquei os cadeados de uma porta de vidro que se abria para uma varanda.

Respirei fundo o ar frio da chuva que devia ter caído há uma hora ou menos. No jardim à minha frente, uma roseira magricela brotara com uma única rosa vermelho magenta perfeita. Adiante das piscinas e da rua, uma praça toda verde entrecortada de caminhos e bancos de cimento me fizeram imaginar um passeio desses que as palavras dançam loucas sobre os olhos e tive, de novo, a sensação de que voltava pra casa.

Depois de aliviar-me da roupa apertada, lancei-me na mesinha, já ocupada com meus pertences. Organizei o notebook e o suporte de leitura e coloquei no canto o pequeno cinzeiro quadrado, única coisa sobre a mesa quando eu cheguei. De repente, me vi desejando um charuto e um copo de whískey e talvez um pouco de talento, pra me sentir Drummond, no espaço que criei.

Sem perder mais tempo, ocupei-me da mesa, a caneta de novo pronta e ávida para não perder nenhum segundo da pintura em movimento que as palavras são capazes de pintar.

E em seguida, a sensação já conhecida de insana liberdade, o impulso de sair e explorar toda a cidade como se tivesse acabado de compra-la e fosse toda minha. Porque assim são as insanas pessoas livres: elas se possuem e tudo passa a pertencê-las.


Na foto, a "minha" roseira em frente à "minha" varanda.

2 comentários:

Claudia Bittencourt disse...

Um dia faço isso. Saio sozinha por aí, pra um lugar aconchegante onde possa fazer minha uma cidade inteira.
Engraçado que isso me lembrou Legião: ''quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu.''
Talvez não precisemos de muito para ficarmos em paz. E talvez você seja melhor que Drummont, por ser você mesma.
:)
Beijos, querida.

Hayet disse...

é, talvez no fundo eu queira isso - estar em paz. E talvez no fundo eu queira isso - que ser eu mesma seja melhor que Drummond... rsrs
Que você possa fazer sua uma cidade beeeeeem legal!

Beijos!