segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viagem Comigo III


Já eram mais de 20hs quando terminei de acomodar minhas coisas na suíte. Parei em frente do mesmo espelho onde me vi sorrindo quando cheguei, satisfeita comigo, sem lembrar se já tinha feito isso antes. E vi completamente minha imagem nua, ainda sorridente, como não via há anos. Era um espelho lindo com uma moldura em pátina branca e parecia bem antigo também, embora não tivesse ainda as manchas que costumam surgir nos espelhos antigos. Me olhei mais um pouco e, da mesma forma que um mundo d

e beleza se descortinou pra mim na paisagem comum do cerrado verde e vermelho da época de chuva, vi-me e quase não me reconheci com meu penteado modernamente retrô e com meus quadris enormes. De fato, não foram apenas os números na balança. Não havia reparado ainda que tinha engordado tanto assim. Meu rosto estava agora tão redondo que meus olhos que sempre foram grandes quase sumiam nele. O formato de minhas nádegas mudara também, embora eu sempre tivesse me orgulhado delas, na verdade eu quase não as via, apenas presumia sua beleza. No todo, apesar da estranheza, ainda não era desagradável de olhar. Os seios agora redondos pelos quilos a mais continuavam muito pequenos e aparentando ainda menores no continuum do meu abdome redondo. Aper

tei-os com desgosto e mexi o meu piercing, apenas por hábito. Então reparei que há tempos não cuidava dele. Empurrei de um lado para o outro e percebi, com certa surpresa, que estava finalmente cicatrizado. Mais uma vez orgulhosa de mim, lembrei-me da promessa de que faria outro assim que esse cicatrizasse (e é bem provável que eu o faça aqui mesmo nessa cidadezinha, tão logo eu decida ir embora).

Queria que meu orientador me visse agora, escrevendo nua uma história, tentando seguir seus valiosos conselhos. Caminhei nua até a varanda e fiquei admirando de novo a praça verde, as piscinas, a roseira seminua, enquanto pensava no velho mestre, na minha mãe, nos meus amores e, mais que tudo, em mim. Demorei-me um bocado naquele vento frio antes de lembrar que estava nua e que a varanda ficava no prime

iro andar, plenamente visível para as outras varandas em volta e para a rua. Sorri, um pouco desafiando, um pouco desejando que algum passante desavisado me flagrasse e me imaginei sorrindo ali sozinha, pensando absorta se eu me importaria de ser vista...

Fui vetada de colocar uma foto nua, mas essa foto, tirada dias depois, ilustra o que eu estava dizendo. Achei essa foto divertida. Não tinha como ter muitas opções, não tirei muitas fotos minhas, uma vez que estava sozinha e não tenho o perfil de pré-adolescentes no orkut.

2 comentários:

Claudia Bittencourt disse...

Acho legal esse lance de andar pelado quando se está sozinho. Ou não sozinho... Haha

Hayet disse...

Mas não há nada tão bom que não possa ser melhorado, não é mesmo? rs