segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viagem Comigo I


As fotos que tirei enquanto escrevia serão acrescentadas aos textos depois, quando eu voltar pra Brasília. A mulher da lanhouse não me deixa baixar elas aqui...

A Last Glance

Deixei a bagagem no ônibus e voltei correndo para lhe dar um últim

o beijo antes de partir. E quando fiz a curva não havia nada senão um vazio onde antes você estava. Voltei, tentando manter o bom humor, mesmo assim tive 2 ou três lágrimas para conter quando cheguei na minha poltrona. O ônibus partiu e fiquei em silêncio, deixando para trás as figuras da paisagem urbana de Bsb.

Um senhor barrigudo com uma trança até a metade das costas, andando de bicicleta; uma crente de blusinha azul e coque, abraçada com sua bíblia; um emo na parada de ônibus, com um alargador enorme na orelha esquerda; dois homens de macacão azul puxando com as enxadas areia para ser peneirada, numa construção; E, nos longos espaços verdes entre os prédios, um homem grisalho com os cabelos e barba desgrenhados, o peito moreno nu, brigando com uma árvore grossa na altura da 115 Sul. E, do lado de dentro do ônibus, eu. De fones de ouvido e chapéu, viajando sozinha e escrevendo com o balanço trêmulo do ônibus em movimento. Ouvindo música alternativa e escrevendo como se precisasse apenas do silêncio da solidão para que o bloqueio de meses se desfizesse. E tudo a minha volta fosse uma poesia pronta e só eu tivesse e só isso tivesse – a missão de destr

uí-la em palavras, porque nem todo mundo sabe ler antes de serem escritas. A poesia vem aos meus olhos pra o papel, como a lã do novelo nas agulhas de tricô, enquanto tento retratar toda essa beleza, mas sem saber desenhar.

Empreendo de novo essa viagem curta e solitária.

Fazia tempo que eu reclamava para mim que eu não me dava mais atenção, não gastava tempo comigo. Resolvi fazer essa viagem só eu e eu mesma, para me reaproximar de mim. Vou só, com todas essas minhas lágrimas contidas: vou gastar tempo comigo, pra não me perder.


Na primeira foto, a vista de Brasília no momento da partida. Na segunda, as paisagens da estrada, no exuberante verde brilhante e vermelho na terra na época de chuva aqui do cerrado.

4 comentários:

Arcanis disse...

Nuuuuuuuuuuuussssssssssssssss
Caramba, que hilário...vc viu o Bob Marley. É um mendigo muito louco que ronda a 115 desde minha adolescência. ahahahahahahaha
Relaxa que depois de brigar com a árvore eles fazem as pazes e ficam abraçados um tempão.

Hayet disse...

KKKkkkkkkkkKKKKkkkkkkk. Saca que naquela hora o comportamento dele fazia mais sentido que o meu? Os loucos somos nós, meu amor...

Claudia Bittencourt disse...

''escrevendo como se precisasse apenas do silêncio da solidão para que o bloqueio de meses se desfizesse. E tudo a minha volta fosse uma poesia pronta e só eu tivesse e só isso tivesse – a missão de destruí-la em palavras, porque nem todo mundo sabe ler antes de serem escritas. A poesia vem aos meus olhos pra o papel, como a lã do novelo nas agulhas de tricô, enquanto tento retratar toda essa beleza, mas sem saber desenhar.''

Foda. Foda, foda, foda.
Um dia quero escrever assim. :)

Hayet disse...

Talvez você seja ainda mais foda, só pro ser você mesma...
Lembre-se que isso já está lá, só destruí em palavras.

Beijos.