domingo, 1 de novembro de 2009

Dias de Sol – Levando as crianças no zoológico


Para os dias bons e extremamente leves que intercalam minha rotina de fatalidades.


"Um retrato falante na parede, suas receitas de sucesso no fogão. Um tapa na cara da realidade. No dia zero de 2000. O vento bate ondulando a sua saia, o seu sorriso é um calendário maia...”

Um dia de sol e me encho de protetor para enfrentá-lo sem fugir para a penumbra. “O sol não é amigo de nós, branquelos azedos”. Aumento o som, sorrindo, a lembrança boa, enfim, como a chuva que passou.

Sua voz insistente, como um pernilongo tocando violino sobre meu rosto, enquanto durmo. Como se seu sussuro ficasse retumbando sempre, trilha sonora dos meus dias.

Volto a lembrar de você com uma leveza, de quem não pode perder o que nunca teve. A vida vindo, as árvores dançando na brisa leve do fim da primavera, verde e florida.

“Alguma coisa traduzida do latim. O seu olhar misterioso sobre mim...”

Paro de pensar em você, e te deixo ali do meu lado, distraída pela gargalhada gostosa do meu sobrinho querido, feliz comigo. Fico rindo com as crianças no banco de trás. A plenitude da felicidade. As letras trocadas fazendo sons cotidianos se tornarem a coisa mais deliciosa do mundo.

“O seu relógio de ponteiros geniosos não se preocupam com o horário de verão...”

E eu, que quis entrar em frente ao espelho quando o tempo chegasse, o vi chegar muito antes do esperado e presenciei o surgimento de cada ruga orgulhosa... E ainda mais orgulhosa, por ser o vinco marcado pelo meu sorriso constante. O que não quer dizer que não tenha sido doloroso, muito menos que eu as tenha aceitado sem lutar. E lutar contra elas foi ainda mais doloroso. Mas quando olho no retrovisor as crianças e seus cata-ventos, me importo cada vez menos com isso.

“É a aparência levantando a sua saia, o seu desejo de fugir da raia. Abrindo os olhos para as coisas lá do céu. O seu olhar garante o palco e o papel”.

Sofro meu Outubro com minha loucura instável, mas plena e feliz, e leve e completa. Não com ele opu com você. Só comigo mesma, do jeito que sempre disse, mas nem vi que quis.

Porque sou sozinha e o serei sempre.

Foi o que fiz do que foi feito de mim.

Já não tenho medo de nada, nem da solidão nem da vida, nem do fim.

E gosto ainda muito, mas muito mais de mim assim.

Gosto da minha companhia, gosto do que vejo no espelho.

Não há mais sombra nos meus olhos, nem escuridão que me assuste.

Só eu.


* - entre aspas: "Dia Zero" da banda watson, que eu ouvia no carro enquanto íamos para o zoo, as crianças ansiosas. Quem quiser conferir acesse www.bandawatson.com.br


2 comentários:

Arcanis disse...

Foi muito divertido, devemos fazer isso mais vezes!

P.S: BBZZZZZZ

Claudia Bittencourt disse...

Muito foda!
Gostei demais.