domingo, 19 de abril de 2009

19/04/2009 - Domingo


Hoje, em pleno meio dia, decidi ir passear com o Akamaru.
Ainda ontem, no mesmo horário, torrei no sol, lamentando não ter passado protetor solar. Hoje, senti o cobertor frio do inverno nas costas. Olhei e vi o céu azul límpido, nenhuma nuvem sequer.
Brasília só tem duas estações: quente-e-chuvosa e fria-e-seca. E a transição de uma pra outra. Não pensei que sentiria falta do frio.
Parece que eu mudo com as estações, me norteio pela nostalgia de cada uma. Minha memória é olfativa, é tátil. Sinto na minha pele, com o frio, outros dias. O cheiro de fumaça, de grama seca. Nem sei o que isso me lembra, eu me parto em duas, achando agradável a sensação, como se eu estivesse ansiosa por sua chegada, mas sem a alegria que achei que sentiria. Pelo contrário, o prazer me deixa melancólica, como se faltasse algo.


Essa noite sonhei de novo com a sensação da perda da música em mim. Meus sons abandonados em um carro, na estrada. Ninguém os tocou e, quando volto a eles, percebo que de fato nunca fiz parte desse universo. A música não me quer nela, por mais que eu a deseje.

Mês passado recuperei minhas partituras, tirei a poeira do teclado, comprei um violão. Achei que tocava melhor agora, sem a prática e os calinhos nas pontas dos dedos, do que em toda a minha vida. Mesmo assim, já não faço parte desse mundo, talvez de nenhum. To sobrando! Sem nada a que me agarrar nesse universo. Flutuo só.

Acordo do meu devaneio, o Akamaru olhando interrogativamente para mim, muita corda da coleira ainda pra ele andar, mas parece esperar que eu ande com ele. Só pra provar que estou errada. Pergunto, meio idiota, se ele quer ir pra casa e ele sem hesitação vai em direção à portaria. Garoto inteligente!


Desisto de saber que sensação é essa, que memórias são essas. Chegou, enfim, o frio. Mês que vem vou à São Paulo, comprarei chapéus, luvas, suspensórios e um novo par de calças risca-de-giz. Vou assistir aos espetáculos que aqui não consegui. Vou criar novas memórias pra sentir falta. Cansei de descrever sonhos e nostalgias, ando pra frente agora. EU escrevo minha história.
_._
Na foto, eu, meus mullets e o akamaru na frente da janela no 20º andar. A vista mais linda do mundo, a vida viva de verdade lá fora.

5 comentários:

Hayet disse...

Fazia tempo que não me sentia orgulhosa de nada que escrevia. Espero que vocês gostem de ler, tanto quanto eu gostei de cuspir isso no papel.

Claudia Bittencourt disse...

Gostei! Me trouxe uma sensação boa que há tempos não tinha ao ler algo.

Nostalgia é bom, ao mesmo tempo que é ruim.
Mas a vontade de criar novas histórias, vivê-las, pra depois sentir saudade, é melhor ainda.

:)
Beijoca, baby.

Hayet disse...

Não esperava ninguém melhor que você pra traduzir isso em palavras.
Fiquei mais feliz ainda!

Bjos

Lê Cami disse...

Música não é feita só de notas e cordas e teclas. A melodia está no sussurro dos passos que demos em direção ao futuro. Não se faz som sem alma aberta. Mas mesmo o silêncio tem sua importância nos acordes da vida (hum...poesia inspirada!!!)

bj

Hayet disse...

"Não se faz som sem a alma aberta..."
Talvez a falta que eu sinta de música esteja mesmo na minha alma fechada. Obrigada por estar presente.